O poesia tu più non tornerai
Dino Campana
Clandestinos serão sempre os anjos de Iahwé
Enchem os primeiros autocarros para o centro
lêem o jornal de distribuição gratuita
à espera que de novo o mar se rasgue
num quarto sub-alugado da periferia
onde em vez de Corte Inglés e Continente
os supermercados se chamam Lidl ou Discount
É fácil detectar seu rosto transparente
pois pertence-lhes a solidão como um zumbido
imerso, inactual, impreciso
semelhante ao dos bosques vedados onde já não se colhe
as castanhas, a lenha morta
Nas grandes praças da Europa por onde quer que se vá
o mesmo rosto detrás dos vidros policiais
uma espécie de fantasma
indivisível, muito para lá dos confins
embora o êxodo exija agora estrita documentação
Todos os textos conspiram contra a materialidade do corpo
por isso há quem acredite na sua ressurreição
|
Ô poésie jamais tu ne reviendras
Dino Campana
Les anges de Yahvé seront toujours clandestins
Ils remplissent les premiers autobus pour le centre
et lisent les informations du journal gratuit
avec l'espoir que la mer va s'ouvrir de nouveau,
depuis leur chambre sous-louée de la périphérie
où, au lieu de Corte Inglés et Continente
les supermarchés s'appellent Lidl ou Discount.
Il est facile de discerner leur visage transparent
car la solitude leur appartient comme un bourdonnement
sous-marin, inactuel, indéterminé,
semblable à ces bosquets enclos où ne se récolte plus
ni bois morts, ni châtaignes.
Sur les grandes places d'Europe, où que l'on aille
le même visage derrière les vitres policières
sorte de fantôme
indivisible, bien au-delà des confins
quoique l'exode exige désormais une identité stricte.
Tous les textes conspirent contre la matérialité du corps
c'est pourquoi il y a ceux qui croient en sa résurrection
|