Cheguei como se te procurasse…



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Cheguei como se te procurasse…
Je suis venu comme si je t'avais cherché…


Cheguei como se te procurasse,
Sem o saber, suspeitar, acreditar,
Para que o plácido se fizesse súbito.
Nunca será tarde para que junto a ti
Seja a minha morada,
Que me aceites, que me abras a porta
A cada dia que passa,
Tu és mais a minha casa.
Je suis venu comme si je t'avais cherché,
Sans le savoir, soupçonner ou y croire.
Afin que le calme soudain revienne.
Il ne sera jamais trop tard pour trouver
Ma place auprès de toi.
Que tu m'acceptes et m'ouvres ta porte
Toi qui deviens chaque jour
Ma demeure davantage.
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Henri Matisse
Intérieur rouge. Nature morte sur une table bleue (1947)
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Fingir que está tudo bem...


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Fingir que está tudo bem...
Faire semblant que tout va bien...


fingir que está tudo bem: o corpo rasgado e vestido
com roupa passada a ferro, rastos de chamas dentro
do corpo, gritos desesperados sob as conversas: fingir
que está tudo bem: olhas-me e só tu sabes: na rua onde
os nossos olhares se encontram é noite: as pessoas
não imaginam: são tão ridículas as pessoas, tão
desprezíveis: as pessoas falam e não imaginam: nós
olhamo-nos: fingir que está tudo bem: o sangue a ferver
sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestades de
medo nos lábios a sorrir: será que vou morrer?, pergunto
dentro de mim: será que vou morrer?, olhas-me e só tu sabes:
ferros em brasa, fogo, silêncio e chuva que não se pode dizer:
amor e morte: fingir que está tudo bem: ter de sorrir: um
oceano que nos queima, um incêndio que nos afoga.
faire semblant que tout va bien : le corps déchiré et vêtu
d'habits repassés au fer, traces de brûlures au dedans
du corps, cris désespérés sous les conversations : faire
semblant que tout va bien : tu me toises et toi seul le sais :
dans la rue où nos regards se croisent, c'est la nuit : les gens
ne peuvent s'imaginer : ils sont ridicules les gens, si mépris-
ables : les gens parlent et ne peuvent imaginer ça : nous
nous regardons : faire semblant que tout va bien : le sang
qui bout sous la peau comme autrefois, tempêtes de peur
sur des lèvres souriantes : Est-ce que je vais mourir ?, je me
demande : Est-ce que je vais mourir ?, tu me regardes et toi
seul le sais : fers rougis, feu, silence et pluie ne peuvent se
dire : amour et mort : faire semblant que tout va bien : devoir
sourire : un océan qui nous brûle, un feu qui nous étouffe.
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Luciano Caldari
La foule (1965)
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Fico admirado quando alguém...


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Fico admirado quando alguém...
Je suis ébahi lorsqu'une personne...


fico admirado quando alguém, por acaso e quase sempre
sem motivo, me diz que não sabe o que é o amor.
eu sei exactamente o que é o amor. o amor é saber
que existe uma parte de nós que deixou de nos pertencer.
o amor é saber que vamos perdoar tudo a essa parte
de nós que não é nossa. o amor é sermos fracos.
o amor é ter medo e querer morrer.
je suis ébahi lorsqu'une personne me dit, par hasard, et
presque toujours sans motif, ne pas savoir ce qu'est l'amour.
je sais précisément ce qu'est l'amour, l'amour c'est savoir
qu'une partie de nous-même a cessé de nous appartenir.
l'amour c'est savoir que nous pardonnerons tout à cette part
de nous-même qui n'est plus la nôtre. l'amour c'est être faible.
l'amour c'est avoir peur et vouloir mourir.
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Rufino Tamayo
Les amoureux (1943)
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Este foi o ano em que nasceste…


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Este foi o ano em que nasceste…
C'est l'année de ta naissance...


este foi o ano em que nasceste
e prolonga-se este ano os seus
meses muito grandes por ti
este foi o ano que te fez nascer
e chegaste no seu leito como
um barco carregado de rosas
um barco sem leme sem remos
que chega na força serena do rio
e na força de um dia demasiado
forte na vida na minha vida
na vida da tua mãe que te
trouxe como um barco perfumado
de pétalas a descer um rio
uma vida demasiado forte e
a nascer e a chegar no dia
exato deste ano em que nasceste
para nós para dias e anos
de auroras e noites distantes
dias longos a nascerem como o
teu sorriso de criança a
ensinar-nos o que esquecemos ao
crescer a ensinar-nos a sorrir
de novo na vida na tua
vida que começou e se estende
neste ano sem noite sem foz
em que chegaste como um barco
de rosas na primeira luz da
madrugada
c'est l'année de ta naissance
et cette année s'étire en des
mois qui sont pour toi si longs.
c'est l'année qui t'a vu naître
et tu es arrivée en son lit comme
une barque chargée de roses
une barque sans timon ni rames
arrivée sereine avec la force d'un
fleuve avec la force d'un jour trop
intense dans la vie, dans ma vie
dans la vie de ta mère qui t'a
portée comme une barque parfumée
de pétales descendant un fleuve
une vie beaucoup trop intense et
tu es née et tu es arrivée le jour précis
de cette année de ta naissance
pour nous et des jours et des années
d'aubes et de nuits lointaines, de
longs jours qui sont nés comme le
sourire de ton enfant, nous
apprenant ce que nous oublions en
grandissant nous apprenant à sourire
de nouveau dans la vie dans ta
vie qui a commencé et qui s'étend
en cette année sans nuit sans fin
où tu es arrivée comme une barque
de roses aux premières lueurs
de l'aube.
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Georges Seurat
Marée basse à Grandcamp (1885)
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Ainda que tu estejas aí...


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Ainda que tu estejas aí...
Même si tu es là...


ainda que tu estejas aí e tu estejas aí e
eu esteja aqui estaremos sempre no
mesmo sítio se fecharmos os olhos
serás sempre tu e tu que me ensinarás
a nadar seremos sempre nós sob
o sol morno de julho e o véu ténue
do nosso silêncio será sempre o
teu e o teu e o meu sorriso a cair
e a gritar de alegria ao mergulhar
na água ao procurar um abraço que
não precisa de ser dado serão
sempre os teus e os teus e os meus
cabelos molhados na respiração
suave das parreiras sempre as tuas
e as tuas e as minhas mãos que não
precisam de se dar para se sentir
ainda que tu estejas aí e tu estejas aí e
eu esteja aqui estaremos sempre
juntos nesta tarde de sol de julho
a nadarmos sob o planar sereno dos
pombos no tanque pouco fundo da
nossa horta sempre no tanque fresco
da horta que construíram para nós
para que na vida pudéssemos ser
mana e mana e mano para sempre
même si tu es là et tu es là et je suis
là nous serons toujours au même en-
droit si nous fermons les yeux ce sera
toujours toi et toi qui m'apprendras à
nager ce sera toujours nous sous le
chaud soleil de juillet et le voile ténu
de notre silence sera toujours le tien
et ton et mon sourire tombant et criant
de joie alors que je plonge dans l'eau
à la recherche d'une caresse qui n'a
pas besoin d'être donné ce sera
toujours les tiens et tes et mes
cheveux mouillés dans la douce
respiration des vignes toujours les
tiens et ton et mes mains qui n'ont pas
besoin d'être tenues pour être senties
même si tu es là et tu es là et je suis
là nous serons toujours ensemble en
cet après-midi ensoleillé de juillet
nageant sous le vol serein des
pigeons dans l'étang peu profond de
notre jardin toujours dans l'étang frais
du jardin qu'ils ont construit pour nous
afin que dans la vie nous puissions être
sœurette sœurette et frérot pour toujours
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Otto Muller
Jour d'été - Sommertag (1921)
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