Poema do livre arbítrio


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Poema do livre arbítrio
Poème du libre arbitre


Há uma fatalidade, intrínsica, insofismável,
inerente a todas as coisas e nelas incrustada.
Uma fatalidade que não se pode ludribriar,
nem, peitar, nem desvirtuar,
nem entreter, nem comover,
nem iludir, nem impedir,
uma falalidade fatalmente fatal,
uma fatalidade que só poderia deixar de o ser,
para ser fatalidade de uma outra maneira qualquer,
igualmente fatal.

Eu sei que posso escolher entre o bem e o mal.
Eu sei que posso fatalmente escolher entre o bem e o mal.

E já sei que escolho o bem  entre o mal e o bem.
Já sei que escolho fatalmente o bem.
Porque escolher o bem é escolher fatalmente o bem,
como escolher o mal é escolher fatalmente o mal.
O meu livre arbítrio
conduz-me fatalmente a uma escolha fatal.
Il y a une fatalité, intrinsèque, infalsifiable,
inhérente à toutes les choses et en elles incrustée.
Une fatalité qu'on ne peut mystifier,
ni suborner, ni adultérer,
ni divertir ni émouvoir,
ni éluder ni embarrasser,
une fatalité fatalement fatal,
une fatalité qui ne pouvait que cesser d'être,
pour être fatale de toute autre manière,
tout aussi fatale.

Je sais que je peux choisir entre le bien et le mal.
Je sais que je peux fatalement choisir entre le bien et le mal.

Et je sais déjà que je choisis le bien entre le mal et le bien.
Je sais déjà que je choisis fatalement le bien.
Parce que choisir le bien, c'est choisir fatalement le bien,
comme choisir le mal, c'est fatalement choisir le mal.
mon libre arbitre
me conduit fatalement à un choix fatal.
________________

Annibale Carracci
Le choix d'Hercule (1596)
...

É necessário, amor...


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É necessário, amor...
Il faut, mon amour...


É necessário, amor,
Que alguém fale
Da nossa morte
Para que possamos voltar à vida.
Pelos descampados da ausência,
Somos o silêncio
E essa voz luzindo
Devolve os nossos nomes
Às palavras,
Às sua agulhas de sangue.
Dizemos, então,
O adeus do regresso.

Il faut, mon amour,
Quelqu'un qui parle
De notre mort
Pour que nous puissions revenir à la vie.
Par les champs désolés de l'absence,
Nous sommes silencieux
Et cette voix qui luit
Renvoie nos noms
À des paroles,
À leurs aiguilles de sang.
Nous pouvons dire, alors,
L'adieu au retour.

________________

René Magritte
L'art de la conversation (1963)
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Poema do Homem Novo


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Poema do Homem Novo
Poème de l'Homme Nouveau


Niels Armstrong pôs os pés na Lua
e a Humanidade saudou nele
o Homem Novo.
No calendário da História sublinhou-se
com espesso traço o memorável feito.

Tudo nele era novo.
Vestia quinze fatos sobrepostos.
Primeiro, sobre a pele, cobrindo-o de alto a baixo,
um colante poroso de rede tricotada
para ventilação e temperatura próprias.
Logo após, outros fatos, e outros e mais outros,
catorze, no total,
de película de nylon
e borracha sintética.
Envolvendo o conjunto, do tronco até aos pés,
na cabeça e nos braços,
confusíssima trama de canais
para circulação dos fluidos necessários,
da água e do oxigénio.

A cobrir tudo, enfim, como um balão ao vento,
um envólucro soprado de tela de alumínio.
Capacete de rosca, de especial fibra de vidro,
auscultadores e microfones,
e, nas mãos penduradas, tentáculos programados,
luvas com luz nos dedos.

Numa cama de rede, pendurada
da parede do módulo,
na majestade augusta do silêncio,
dormia o Homem Novo a caminho da Lua.
Cá de longe, na Terra, num borborinho ansioso,
bocas de espanto e olhos de humidade,
todos se interpelavam e falavam,
do Homem Novo,
do Homem Novo,
do Homem Novo.

Sobre a Lua, Armstrong pôs finalmente os pés.
Caminhava hesitante e cauteloso,
pé aqui,
pé ali,
as pernas afastadas,
os braços insuflados como balões pneumáticos,
o tronco debruçado sobre o solo.

Lá vai ele.
Lá vai o Homem Novo
medindo e calculando cada passo,
puxando pelo corpo como bloco emperrado.

Mais um passo.
Mais outro.
Num sobre-humano esforço
levanta a mão sapuda e qualquer coisa nela.
Com redobrado alento avança mais um passo,
e a Humanidade inteira,
com o coração pequeno e ressequido,
viu, com os olhos que a terra há-de comer,
o Homem Novo espetar, no chão poeirento da Lua,
 a bandeira da sua Pátria,
exactamente como faria o Homem Velho.
Niels Armstrong a posé le pied sur la Lune
et l'humanité a salué en lui
l'Homme Nouveau.
Dans le calendrier de l'Histoire, le mémorable
exploit a été souligné d'un large trait.

Tout en lui était nouveau.
Il était vêtu de quinze habits superposées.
En premier sur la peau, le couvrant de haut en bas,
un collant poreux d'une maille tricotée
pour la ventilation et une température adéquates.
Juste après, d'autres habits, et d'autres et d'autres encore,
quatorze au total
en peau de nylon
et caoutchouc synthétique.
Enveloppant l'assemblage, du torse jusqu'aux pieds,
sur la tête et sur les bras,
confusément tramé de canaux
pour la circulation des fluides nécessaires,
eau et oxygène.

Couvrant le tout, enfin, comme un ballon au vent,
une enveloppe soufflée de tissu d'aluminium.
Casque à visser, en fibre de verre spéciale,
oreillettes et micros,
et, dans les mains pendantes, des tentacules programmés,
gants avec lumière sur les doigts.

Dans un hamac, suspendu
au paroi du module,
dans l'auguste majesté du silence,
dormait l'Homme Nouveau en route vers la Lune.
Loin de là, sur Terre, dans un tourbillon d'angoisse,
bouches étonnées et yeux humides,
le monde s'interrogeait et parlait,
de l'Homme nouveau,
de l'Homme nouveau,
de l'Homme nouveau.

Sur la lune, Armstrong posa finalement le pied.
D'une marche hésitante et cauteleuse,
un pied ici,
un pied là,
Les jambes écartées,
les bras gonflés comme des ballons pneumatiques,
le tronc penché vers le sol.

Il y va.
Le voilà l'Homme Nouveau
mesurant et calculant chaque étape,
tirant sur son corps comme un bloc empierré.

Un pas de plus.
Puis un autre.
Dans un effort sur-humain
il lève une main potelé qui contient quelque chose.
Avec un souffle redoublé, il avance un pas de plus,
et l'Humanité entière,
avec son petit cœur desséché,
a vu, avec ses yeux que la terre mangera,
l'Homme Nouveau planter, dans le sol poussiéreux de la
 Lune, le drapeau de sa Patrie,
exactement comme l'aurait fait le Vieil Homme.
________________

Andy Warhol
Marche sur la Lune (1987)
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Poema do Gato


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Poema do Gato
Poème du chat


Quem há-de abrir a porta ao gato
quando eu morrer?

Sempre que pode
foge prá rua,
cheira o passeio
e volta pra trás,
mas ao defrontar-se com a porta fechada
(pobre do gato!)
mia com raiva
desesperada.
Deixo-o sofrer
que o sofrimento tem sua paga,
e ele bem sabe.

Quando abro a porta corre pra mim
como acorre a mulher aos braços do amante.
Pego-lhe ao colo e acaricio-o
num gesto lento,
vagarosamente,
do alto da cabeça até ao fim da cauda.
Ele olha-me e sorri, com os bigodes eróticos,
olhos semi-cerrados, em êxtase,
ronronando.
Repito a festa,
vagarosamente.
do alto da cabeça até ao fim da cauda.
Ele aperta as maxilas,
cerra os olhos,
abre as narinas.
e rosna.
Rosna, deliquescente,
abraça-me
e adormece.

Eu não tenho gato, mas se o tivesse
quem lhe abriria a porta quando eu morresse?
Qui ouvrira la porte au chat
quand je serais mort ?

lui qui peut toujours
s'enfuir dans la rue,
flairant à l'aventure
et revenir au logis,
pour se trouver devant une porte fermée
(pauvre chat !)
miaulant avec rage
et désespoir.
je le laisse souffrir
car la souffrance a son prix,
et il le sait bien.

Quand j'ouvre la porte, il court vers moi
comme vole une femme aux bras de son amant.
Je l'attrape au collet et le caresse
d'un geste lent
très lentement,
du haut de la tête jusqu'au bout de la queue.
Il me regarde et sourit, moustaches érotiques,
les yeux mi-clos, en extase,
ronronnant.
J'en rajoute,
très lentement,
du haut de la tête jusqu'au bout de la queue.
Il serre les mâchoires,
ferme les yeux,
ouvre ses narines,
et gronde,
gronde, déliquescent,
Enlace-moi
et il s'endort.

Je n'ai pas de chat, mais si j'en avais un
qui lui ouvrirait la porte si je mourrais ?
________________

Otto Dix
Chat (1959)
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Poema do eterno retorno


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Poema do eterno retorno
Poème de l'éternel retour


Se não houvesse mais nada
(mesmo mais nada)
senão átomos,
se a mesma causa desse sempre o mesmo efeito
e para cada efeito houvesse sempre a mesma causa,
então o meu salgueiro
havia um dia de ressuscitar.
 
Se não houvesse mais nada
(mesmo mais nada)
senão átomos,
eu próprio,
na efemeridade eternamente repetida
deste momento de agora
tornaria a rever o meu salgueiro.
 
Se não houvesse mais nada
(mesmo mais nada)
senão átomos,
os milhões de milhões de milhões de átomos
que compõem os milhões de milhões de milhões de
 galáxias
dispostos de milhões de milhões de milhões de maneiras
 diferentes,
teriam forçosamente de repetir,
daqui a milhões de milhões de milhões de séculos,
exactissimamente a mesma posição que agora têm.

E então,
nesse dia infinitamente longínquo mas finitamente
 próximo,
eu, Fulano de Tal,
filho legítimo de Fulano de Tal e de Dona Fulana de Tal,
nascido e baptizado na freguesia de Tal,
a tanto de Tal,
neto paterno de Fulanos de Tal,
e materno de Tal e Tal,
etc, e tal,
se não houvesse mais nada
(mesmo mais nada)
senão átomos,
encontrar-me-ía no mesmo ponto do mesmo Universo
a olhar parvamente para o meu salgueiro.
 
Isto, é claro,
se não houvesse mais nada
(mesmo mais nada)
senão átomos.
S'il n'y avait rien d'autre
(vraiment rien d'autre)
que des atomes,
si la même cause donnait toujours le même effet
et si pour chaque effet il y avait toujours la même cause,
alors mon saule
devrait un jour ressusciter.

S'il n'y avait rien d'autre
(vraiment rien d'autre)
que des atomes,
mon moi,
dans l'éphémère éternellement répétée
en cet instant maintenant
devrait revenir sous mon saule.

S'il n'y avait rien d'autre
(vraiment rien d'autre)
que des atomes,
les millions de millions de millions d'atomes
composant les millions de millions de millions de
 galaxies
disposés de millions de millions de millions de manières
 différentes,
devraient nécessairement se répéter,
dans des millions de millions de millions de siècles,
exactement à la même position qu'ils ont maintenant.

Et alors,
en ce jour infiniment éloigné mais finiment proche
 et complet,
moi, Untel ,
fils légitime de Untel et de Dame Une-Telle
né et baptisé en Telle paroisse,
à tant de Tel,
petit-fils paternel de Untel,
et maternelle de Telle et Telle,
etc. et tel,
qu'il n'y ait rien d'autre
(vraiment rien d'autre)
que des atomes,
je me retrouverais au même point dans le même Univers
regardant bêtement mon saule.

Ceci, évidemment,
s'il n'y avait rien d'autre
(vraiment rien d'autre)
que des atomes.
________________

Claude Monet
Saule pleureur (1918)
...

Poema do afinal


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Poema do afinal
Poème, au bout du compte


No mesmo instante em que eu, aqui e agora,
Limpo o suor e fujo ao Sol ardente,
Outros, outros como eu, além e agora,
Estremecem de frio e em roupas se agasalham.

Enquanto o Sol assoma, aqui, no horizonte,
E as aves cantam e as flores em cores se exaltam,
Além, no mesmo instante, o mesmo Sol se esconde,
As aves emudecem e as flores cerram as pétalas.
Enquanto eu me levanto e aqui começo o dia,
Outros, no mesmo instante, exactamente o acabam.
Eu trabalho, eles dormem; eu durmo, eles trabalham.
Sempre no mesmo instante.

Aqui é Primavera. Além é Verão.
Mais além é Outono. Além, Inverno.
E nos relógios igualmente certos,
Aqui e agora,
O meu marca meio-dia e o de além meia-noite.

Olho o céu e contemplo as estrelas que fulgem.
Busco as constelações, balbucio os seus nomes.
Nasci a olhá-las, conheço-as uma a uma.
São sempre as mesmas, aqui, agora e sempre.

Mas além, mais além, o céu é outro,
Outras são as estrelas, reunidas
Noutras constelações.

Eu nunca vi as deles;
Eles,
Nunca viram as minhas.

A Natureza separa-nos.
E as naturezas.
A cor da pele, a altura, a envergadura,
As mãos, os pés, as bocas, os narizes,
A maneira de olhar, o modo de sorrir,
Os tiques, as manias, as línguas, as certezas.

Tudo.

Afinal
Que haverá de comum entre nós?

Um ponto, no infinito.
Au moment même où moi, ici et maintenant,
J'essuie ma sueur et fuis le soleil brûlant,
D'autres, d'autres comme moi, ailleurs et maintenant,
tressaillent de froid et s’emmitouflent en leurs linges.

Tandis que le soleil se lève, ici, sur l'horizon,
Et les oiseaux chantent et les fleurs exaltent leurs couleurs,
Ailleurs, au même moment, le même Soleil se cache,
Les oiseaux se taisent et les fleurs ferment leurs pétales.
Tandis que je me lève et qu'ici commence la journée,
Au même moment, d'autres, précisément, la terminent.
je travaille, ils dorment ; Je dors, ils travaillent.
Toujours au même moment.

Ici, c'est le Printemps. Ailleurs, c'est l'Été.
Mais ailleurs, c'est l'Automne. Ailleurs encore, l'Hiver.
Et sur nos montres pareillement exactes,
Ici et maintenant,
La mienne indique midi et l'autre ailleurs minuit.

Je regarde le ciel et contemple les étoiles qui fulgurent.
Je cherche les constellations, je balbutie leurs noms.
Je suis né les regardant, je les connais une par une.
Elles sont toujours les mêmes, ici, maintenant et toujours.

Mais ailleurs, bien au-delà, le ciel est autre,
Autres sont les astres, réunies
En d'autres constellations.

Je n'ai jamais vu les leurs ;
Eux,
N'ont jamais vu les miennes.

La Nature nous sépare.
Et leurs natures.
La couleur de la peau, la taille, l'envergure,
Les mains, les pieds, les bouches, le nez,
La manière de regarder, la façon de sourire,
Les tics, les manies, les langues, les certitudes.

Tout.

Au bout du compte
Qu'y aura-t-il de commun entre nous ?

Un point, à l'infini.
________________

Giuseppe Arcimboldo
Les quatre saisons (1563)
...

Poema de domingo


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Poema de domingo
Poème du dimanche


Aos domingos as ruas estão desertas
e parecem mais largas.
Ausentaram-se os homens à procura
de outros novos cansaços que os descansem.
Seu livre arbítrio alegremente os força
a fazerem o mesmo que fizeram
os outros que foram fazer o que eles fazem.
E assim as ruas ficaram mais largas,
o ar mais limpo, o sol mais descoberto.
Ficaram os bêbados com mais espaço para trocarem
 pernas
e espetarem o ventre e alargarem os braços
no amplexo de amor que só eles conhecem.
O olhar aberto às largas perspectivas
difunde-se e trespassa
os sucessivos, transparentes planos.
Um cão vadio sem pressas e sem medos
fareja o contentor tombado no passeio.
É domingo.
E aos domingos as árvores crescem na cidade,
e os pássaros, julgando-se no campo, desfazem-se
a cantar empoleirados neles.
Tudo volta ao princípio.
E ao princípio o lixo do contentor cheira ao estrume das
 vacas
e o asfalto da rua corre sem sobressaltos por entre as
 pedras
levando consigo a imagem das flores amarelas do tojo,
enquanto o transeunte,
no deslumbramento do encontro inesperado,
eleva a mão e acena
para o passeio fronteiro onde não vai ninguém.
Le dimanche les rues sont désertes
et paraissent plus grandes.
S'absentaient les hommes à la recherche
de nouvelles lassitudes qui les délassent.
Leur libre arbitre avec joie les oblige
à faire la même chose que ce qu'ont fait
les autres qui sont allés faire ce qu'ils font.
Aussi les rues sont-elles plus larges,
l'air plus pur, le soleil plus découvert.
Et il reste plus de place aux ivrognes pour chanceler sur
 leurs jambes
et se crever la panse et étirer leurs bras
dans l'étreinte de l'amour qu'eux seuls connaissent.
L'œil ouvert sur de larges perspectives
se répand et transperce
les plans successifs et transparents.
Un chien vagabonde sans hâte et sans peur
renifle la poubelle renversée sur le trottoir.
C'est dimanche.
Et le dimanche les arbres poussent dans la ville,
et les oiseaux, se croyant à la campagne, s'abandonnent
au chant là-haut sur eux perchés.
Tout retourne à l'origine.
Et à l'origine, les ordures de la poubelle sentent la bouse
 des vaches
et l'asphalte de la rue, sans aucun soubresaut, coule
 entre les pierres
emportant avec elle l'image des fleurs jaunes des ajoncs,
tandis que le piéton,
dans l'éblouissement d'une rencontre imprévue,
lève sa main et fait signe
vers le trottoir d'en face où personne ne va.
________________

Cunha Rocha
Coïmbra (1985)
...

Jogos olímpicos


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Jogos olímpicos
Jeux Olympiques


Cada passo arrancado aos músculos,
Esculpido no espaço,
Caminho talhado em suor.
 
Descendentes do relâmpago,
Da pedra, do vento, da altura,
Da distância, da água,
Seres recortados no esforço.
 
Entregam-se e dão:
Para muitos a dádiva do choro.
Para tão poucos,
Um movimento imobilizado em ouro.

Chaque pas arraché aux muscles,
Ciselé dans l'espace,
Chemin taillé par la sueur.

Descendants de la foudre,
De la pierre, du vent, de la hauteur,
De la distance, de l'eau,
Êtres découpés dans l'effort.

Ils se livrent et reçoivent :
Pour beaucoup, le présent des pleurs.
Pour très peu,
Un mouvement figé dans l'or.

________________

Mirone (455 a.C.)
Le Discobole (copie romaine)
...

Poemas das flores


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Poemas das flores
Poèmes des fleurs


Se com flores se fizeram revoluções
que linda revolução daria este canteiro!
 
Quando o clarim do Sol toca a matinas
ei-las que emergem do noturno sono
e as brandas, tenras hastes se perfilam.
Estão fardadas de verde clorofila,
botões vermelhos, faixas amarelas,
penachos brancos que se balanceiam
em mesuras que a aragem determina
É do regulamento ser viçoso
quando a seiva crepita nas nervuras
e frenética ascende aos altos vértices.
 
São flores e, como flores, abrem corolas
na memória dos homens.
 
Recorda o homem que no berço adormecia,
epiderme de flor num sorriso de flor,
e que entre flores correu quando era infante,
ébrio de cheiros,
abrindo os olhos grandes como flores.
Depois, a flor que ela prendeu entre os cabelos,
rede de borboletas, armadilha de unguentos,
o amor à flor dos lábios,
o amor dos lábios desdobrado em flor,
a flor na emboscada, comprometida e ingênua,
colaborante e alheia,
a flor no seu canteiro à espera que a exaltem,
que em respeito a violem
e em sagrado a venerem.
 
Flores estupefacientes, droga dos olhos, vício dos sentidos.
Ai flores, ai flores das verdes hastes!
A César o que é de César. às flores o que é das flores.
Si l'on faisait la révolution avec des fleurs,
quelle belle révolution ce parterre donnerait !

Quand le clairon du soleil joue les matines
elles sortent ici du sommeil nocturne
et se redressent, les tendres et molles tiges.
Elles sont costumées de verte chlorophylle,
boutons vermeilles, bandeaux jaunis,
panaches blancs qui, au rythme
que la brise détermine, se balancent
C'est la règle pour être vigoureuse
lorsque la sève crépite dans les nervures
et monte avec frénésie vers les hauteurs.

Elles sont fleurs et, comme fleurs, ouvrent des corolles
dans la mémoire des hommes.

Souviens-toi de l'homme qui s'endormait dans le berceau,
épiderme de fleur avec un sourire de fleur,
et qui courait parmi les fleurs lorsqu'il était enfant,
enivré de parfums,
ouvrant ses yeux aussi grands que des fleurs.
Et plus tard, la fleur qu'elle épinglait dans ses cheveux,
filet de papillons, piège d'onguents,
l'amour à fleur des lèvres,
l'amour aux lèvres épanouies en fleur,
la fleur en embuscade, ingénue et compromise,
étrangère et conciliante,
la fleur en son parterre espérant qu'on l'exalte,
toute entière, craintive qu'on la viole
et dans l'union sacré qu'on la vénère.

Fleurs narcotiques, drogue des yeux, addiction des sens.
Ô fleurs, ô fleurs sur tiges vertes !
A César ce qui est à César. aux fleurs ce qui est aux fleurs.
________________

Vincent van Gogh
Mademoiselle Gachet dans son jardin (1890)
...

Poema do Futuro


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Poema do Futuro
Poème du futur


Conscientemente escrevo e, consciente,
medito o meu destino.

No declive do tempo os anos correm,
deslizam como a água, até que um dia
um possível leitor pega num livro
e lê,
lê displicentemente,
por mero acaso, sem saber porquê.
Lê, e sorri.
Sorri da construção do verso que destoa
no seu diferente ouvido;
sorri dos termos que o poeta usou
onde os fungos do tempo deixaram cheiro a mofo;
e sorri, quase ri, do íntimo sentido,
do latejar antigo
daquele corpo imóvel, exhumado
da vala do poema.

Na História Natural dos sentimentos
tudo se transformou.
O amor tem outras falas,
a dor outras arestas,
a esperança outros disfarces,
a raiva outros esgares.
Estendido sobre a página, exposto e descoberto,
exemplar curioso de um mundo ultrapassado,
é tudo quanto fica,
é tudo quanto resta
de um ser que entre outros seres
vagueou sobre a Terra.
Consciemment j'écris et, conscient,
je médite sur mon destin.

Sur les pentes du temps, déboulent les années,
qui glissent comme l'eau, jusqu'au jour où
un lecteur éventuel prend un livre
et lit,
lit négligemment,
par pur hasard, sans savoir pourquoi.
Lit et sourit.
Sourit à la construction du vers qui sonne
mal à son oreille ;
sourit des termes que le poète utilise,
les champignons du temps y laissent une odeur de moisi ;
sourit, de la signification intime, et rirait presque
de l'antique palpitation
de ce corps immobile, exhumé
du fossé du poème.

Dans l'Histoire Naturelle des sentiments
tout s'est transformé.
L'amour a d'autres mots,
la douleur d'autres angles,
l'espérance d'autres déguisements,
la colère d'autres grimaces.
Étendu sur la page, exposé et découvert,
exemple curieux d'un monde dépassé,
c'est tout ce qui est,
c'est tout ce qui reste
d'un être qui parmi d'autres êtres
divagait sur la Terre.
________________

Florine Offergelt
Mots (2016)
...

Poema das coisas belas


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Poema das coisas belas
Poème des belles choses


As coisas belas,
as que deixam cicatrizes na memória dos homens,
por que motivos serão belas?
E belas, para quê?

Põe-se o Sol porque o seu movimento é relativo.
Derrama cores porque os meus olhos vêem.
Mas por que será belo o pôr do sol?
E belo, para quê?

Se acaso as coisas não são coisas em si mesmas,
mas só são coisas quando percebidas,
por que direi das coisas que são belas?
E belas, para quê?

Se acaso as coisas forem coisas em si mesmas
sem precisarem de ser coisas percebidas,
para quem serão belas essas coisas?
E belas, para quê?
Les belles choses,
celles laissant des cicatrices dans la mémoire des hommes,
pour quelles raisons seraient-elles belles ?
Et belles, pour quoi ?

Le soleil se couche car son mouvement est relatif.
Il déverse des couleurs afin que mes yeux les voient.
Mais pourquoi un coucher de soleil serait-il beau ?
Et beau, pour quoi ?

Si d'aventure les choses n'étaient pas choses en soi-même,
mais seulement choses perçues,
pourquoi devrais-je dire que les choses sont belles ?
Et belles, pour quoi ?

Si d'aventure les choses étaient choses en soi-même
sans avoir besoin d'être choses perçues,
pour qui ces choses seraient-elles belles ?
Et belles, pour quoi ?
________________

Giorgio de Chirico
Le contemplateur (1976)
...

Poema da noiva de Chagall


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Poema da noiva de Chagall
Poème de la fiancée de Chagall


Foi então que um rumor tão insensível
como um abrir de pétalas
roçou por entre as folhas dos arbustos.
A noiva de Chagall,
micro-onda violeta, espuma de detergente,
flutuando ao sabor de uma suposta brisa,
alegre e rápida, voluptuosa e breve,
em círculos de renda me envolveu.

De vassoura de esparto, o homem do jardim
juntava as folhas secas,
e ao juntá-las,
diluía rumores no silêncio da tarde
enquanto ia pensando noutra coisa.
Ce fut alors un bruit très sensible
comme une éclosion de pétales
qui fraya parmi les feuilles des arbustes.
La fiancée de Chagall,
micro-onde violette, mousse de lessive,
flottant au gré d'une supposée brise,
joyeuse et rapide, voluptueuse et brève,
en cercles de dentelles m'enveloppait.

D'un balai de spartes, l'homme du jardin
rassemblait les feuilles sèches,
et à les rassembler ainsi,
rumeurs diluées dans le silence du soir
tout en pensant à autre chose.
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Marc Chagall
La fiancée au visage bleu (1932)
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Dois ou três corvos...


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Dois ou três corvos...
Deux ou trois corbeaux...


Dois ou três corvos sobre a neve
Que saltitam entre crocitos;
Espanta-espiritos, o riso da minha mãe,
Enquanto lhes dá pão,
Um riso onde tinem pingentes
De puro júbilo,
E, depois, reparado o silêncio,
Vibra uma paz desconhecida –
E esta vibração de hino,
Que mais poderia ser senão alegria?

Deux ou trois corbeaux sur la neige
Qui sautillent et qui croassent ;
Carillons du vent, le rire de ma mère
Qui leur donnait du pain,
Rire où tintent les glaçons
D'une joie pure,
Et puis, rétabli le silence,
Vibre une paix inconnue –
Et cette vibration d'un hymne,
Qu'est-elle si ce n'est une allégresse ?

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Ohara Koson
Corbeaux dans la neige (1936)
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Poema para Galileu


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Linhas de Força (1967) »»
 
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Poema para Galileu
Poème pour Galilée


Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano,
aquele teu retrato que toda a gente conhece,
em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce
sobre um modesto cabeção de pano.
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha
 Florença.
(Não, não, Galileo! Eu não disse Santo Ofício.
Disse Galeria dos Ofícios.)
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada
 Florença.

Lembras-te? A Ponte Vecchio, a Loggia, a Piazza della
 Signoria…
Eu sei… Eu sei…
As margens doces do Arno às horas pardas da melancolia.
Ai que saudade, Galileo Galilei!

Olha. Sabes? Lá em Florença
está guardado um dedo da tua mão direita num relicário.
Palavra de honra que está!
As voltas que o mundo dá!
Se calhar até há gente que pensa
que entraste no calendário.

Eu queria agradecer-te, Galileo,
a inteligência das coisas que me deste.
Eu,
e quantos milhões de homens como eu
a quem tu esclareceste,
ia jurar – que disparate, Galileo!
– e jurava a pés juntos e apostava a cabeça
sem a menor hesitação –
que os corpos caem tanto mais depressa
quanto mais pesados são.

Pois não é evidente, Galileo?
Quem acredita que um penedo caia
com a mesma rapidez que um botão de camisa ou que
 um seixo da praia?
Esta era a inteligência que Deus nos deu.

Estava agora a lembrar-me, Galileo,
daquela cena em que tu estavas sentado num escabelo
e tinhas à tua frente
um friso de homens doutos, hirtos, de toga e de capelo
a olharem-te severamente.
Estavam todos a ralhar contigo,
que parecia impossível que um homem da tua idade
e da tua condição,
se tivesse tornado num perigo
para a Humanidade
e para a Civilização.
Tu, embaraçado e comprometido, em silêncio mordiscavas
 os lábios,
e percorrias, cheio de piedade,
os rostos impenetráveis daquela fila de sábios.

Teus olhos habituados à observação dos satélites e das
 estrelas,
desceram lá das suas alturas
e poisaram, como aves aturdidas – parece-me que estou
 a vê-las –,
nas faces grávidas daquelas reverendíssimas criaturas.
E tu foste dizendo a tudo que sim, que sim senhor, que era
 tudo tal qual
conforme suas eminências desejavam,
e dirias que o Sol era quadrado e a Lua
 pentagonal
e que os astros bailavam e entoavam
à meia-noite louvores à harmonia universal.
E juraste que nunca mais repetirias
nem a ti mesmo, na própria intimidade do teu pensamento,
 livre e calma,
aquelas abomináveis heresias
que ensinavas e escrevias
para eterna perdição da tua alma.

Ai Galileo!
Mal sabiam os teus doutos juízes, grandes senhores deste
 pequeno mundo,
que assim mesmo, empertigados nos seus cadeirões
 de braços,
andavam a correr e a rolar pelos espaços
à razão de trinta quilómetros por segundo.

Tu é que sabias, Galileo Galilei.
Por isso eram teus olhos misericordiosos,
por isso era teu coração cheio de piedade,
piedade pelos homens que não precisam de sofrer,
 homens ditosos
a quem Deus dispensou de buscar a verdade.
Por isso estoicamente, mansamente,
resististe a todas as torturas,
a todas as angústias, a todos os contratempos,
enquanto eles, do alto inacessível das suas alturas,
foram caindo,
caindo,
caindo,
caindo,
caindo sempre,
e sempre,
ininterruptamente,
na razão directa do quadrado dos tempos.
Je regarde ton portrait, mon vieux pisan,
ce portrait de toi que tout le monde connaît,
où ta belle tête s'épanouit et fleurit
sur une modeste collerette de tissu.
Ce portrait de la Galerie des Offices dans ta vieille
 Florence.
(Non, non, Galilée ! Je n'ai pas dit Saint-Office.
J'ai dit Galerie des Offices).
Ce portrait de la Galerie des Offices de l'exquise
 Florence.

Te souviens-tu ? Le Ponte Vecchio, la Loggia, la Piazza della
 Signoria...
Je sais... Je sais...
Les douces rives de l'Arno aux heures grises de la mélancolie.
Ah, quelle nostalgie, Galileo Galilei !

Regarde. Le sais-tu ? Là, dans Florence
un doigt de ta main droite est conservé dans un reliquaire.
Parole d'honneur que c'est vrai !
Comme le monde tourne !
Peut-être même y a-t-il des gens qui pensent
que tu es dans le calendrier.

Je voulais te remercier, Galilée,
de l'intelligence des choses que tu m'as données.
À moi,
et à combien de millions d'hommes comme moi
que tu as éclairés,
j'aurais jurer - quelle absurdité, Galilée !
- et je jurerais de tout mon cœur et de toute ma tête
sans la moindre hésitation -
que les corps tombent d'autant plus vite
qu'ils sont lourds.

N'est-ce pas évident, Galilée ?
Qui pourrait croire qu'un rocher tombe
à la même vitesse qu'un bouton de chemise ou qu'un galet
 sur la plage ?
C'est l'intelligence même que Dieu nous a donnée.

J'étais en train de me souvenir, Galilée,
de cette scène où tu étais assis sur un tabouret
et il y avait en face de toi
une flopée d'hommes doctes, debout, droit, en toge et cape
te regardant sévèrement.
Ils étaient tous à s'en prendre à toi,
qu'il semblait impossible qu'un homme de ton âge
et de ta condition
puisse devenir un danger
pour l'Humanité
et pour la Civilisation.
Toi, embarrassé et l'air troublé, tu te mordilles tes lèvres
 en silence,
tu parcourais, empli de pitié,
les visages impénétrables de cette lignée de sages.

Tes yeux, habitués à l'observation des satellites
 et les étoiles,
descendirent de leurs hauteurs
et se posèrent, comme des oiseaux étourdis - Je crois que
 je les vois encore -,
sur les visages gravides de ces créatures très révérencieuses.
Et tu as continué à dire oui à tout, oui, monsieur, que tout
 était pareil
à ce que souhaitaient leurs éminences,
et tu leur disais que le Soleil était de forme carré et la Lune
 pentagonale
et que les étoiles dansaient et entonnaient
à la mi-nuit des laudes à l'harmonie universelle.
Et tu as juré que tu ne répéterais jamais,
pas même à toi, dans la propre intimité de ta pensée,
 libre et calme,
ces abominables hérésies
que tu as enseigné et écrit
pour la damnation éternelle de ton âme.

Hélas, Galilée !
Ils ne se doutaient pas tes doctes juges, grands seigneurs
 de ce petit monde,
que même ainsi, recroquevillés, calés dans leurs chaises
 caquetoires,
ils couraient et roulaient dans l'espace
à une vitesse de trente kilomètres par seconde.

C'est toi qui savais, Galileo Galilei.
C'est pourquoi tes yeux avaient miséricorde,
c'est pourquoi ton cœur s'emplissait de pitié,
pitié pour les hommes qui n'ont pas besoin de souffrir,
 hommes chanceux
que Dieu a dispensé de rechercher la vérité.
C'est pourquoi, stoïque, sans broncher,
tu as résisté à toutes les tortures,
à toutes les angoisses, à tous les contretemps,
eux, cependant, depuis leurs hauteurs inaccessibles,
ils étaient en train de tomber,
tomber,
tomber,
tomber
tomber toujours,
et toujours,
sans interruption,
en raison inverse du carré des temps.
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Joseph Nicolas Robert Fleury
Galilée devant le Saint-Office (1847)

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