Velázquez pintando As Meninas


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Velázquez pintando As Meninas
Vélasquez peignant Les Ménines


Aqui estou, a vós e a mim vendo:
parte deste cão retraído, ele por certo
mais altivo, e de dois monstros,
Maribarbola, lerda, obesa e Nicolasillo,
jovem (mais trágico) anão italiano:
o meu tropel e de meu amo, El-Rei.
As meninas, açafatas, minhas
duas filhas, diversas em partos e rugas.
Cinquenta e seis anos: quantos mais?
Antes ou depois desta criança
em cujo tempo estou,
agora mais que seu pai, sofrendo?
Porque me adentro, olhando, em meu avô,
melancólico, do Porto expatriado?
Bobo sou da corte, outro, apenas o mais alto,
ou torrentoso, no Inverno, um rio?
O grotesco fascina, de tal pigmento
não disse tudo, organizo este quarto
e a vida, com os dentes degradados,
sem fé, sem esperança. Caridosamente apenas.
E que fiz, que aguardo ainda destes pincéis
ou escalpelos? Poucas cores, de preferência
embutidas na terra e o verde oliva
e esse desígnio, o simples valor da existência.
Um único louco, aqui – eu, falsamente
sereno e complacente, neste estúdio
há mais de trinta anos, eternizando o efémero.
Me voici, vous et moi regardant,
part de ce chien retrait, lui sans doute
plus hautain, et de ces deux monstres,
Maribarbola, lourde, obèse et Nicolas, petit
jeune (plus tragique) nain italien :
ma cour et mon maître, Le Roi.
Les ménines, dames d'atour, mes
deux filles, nées d'autres lits et d'autres âges.
Cinquante-six ans : si ce n'est plus ?
Avant, ou après cet enfant,
à quelle époque, était-ce,
maintenant plus que son père, cette souffrance ?
Pourquoi, en moi regardant, mélancolique
mon grand-père, expatrié de Porto ?
Suis-je un autre bouffon de la cour, guère plus
grand ou torrentiel qu'un fleuve en hiver ?
Le grotesque fascine, de tels pigments
ne disent pas tout, j'ordonne cette pièce
et cette vie, avec des dents cariées,
sans espoir ni foi. Simplement charitable.
Et que faire, qu'attendre encore de ces pinceaux,
de ces scalpels ? Peu de couleurs, de préférence
incorporées à de la terre et du vert olive
et ce dessin l'ordinaire valeur de l'existence.
Le seul fou ici – c'est moi, faussement
serein et complaisant, dans cet atelier
depuis plus de trente ans, immortalisant l'éphémère.
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Diego Velázquez
Les Ménines (1656)
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