Pedro, lembrando Inês


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Pedro, lembrando Inês
Pedro, se souvenant d'Inês


Em quem pensar, agora, senão em ti? Tu, que
me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a
manhã da minha noite. É verdade que te podia
dizer: "Como é mais fácil deixar que as coisas
não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos
apenas dentro de nós próprios?" Mas ensinaste-me
a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou,
até sermos um apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor:
ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua
voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo
esse que mal corria quando por ele passámos,
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo
que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor,
de chegar antes de ti para te ver chegar: com
a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água
fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. Tu:
a primavera luminosa da minha expectativa,
a mais certa certeza de que gosto de ti, como
gostas de mim, até ao fundo do mundo que me deste.

À qui penser maintenant, sinon à toi ? Toi qui
m'a délivré des choses incertaines, et apporta le
matin dans ma nuit. Il est vrai que je pouvais te
dire : « Qu'il est plus facile de laisser les choses
inchangées, d'être ce que nous fûmes toujours,
de ne changer qu'en nous-mêmes ? » Mais tu m'avais
appris à être nous deux, et à être avec toi ce que je suis,
jusqu'à n'être plus qu'un dans l'amour qui nous unit,
contre la solitude qui nous divise. Mais l'amour est ainsi :
te voir quand tu n'es pas là, entendre ta voix ouvrir
les sources de tous les fleuves, même celui qui
s'écoulait à peine quand nous l'avons traversé,
jusqu'à la rive où j'ai découvert ce que veut dire
aller contre le temps, gagner du temps contre
le temps qui nous vole. J'aimerais, mon amour,
arriver avant toi pour te voir arriver : avec
la surprise de tes cheveux, et ton visage d'eau
fraiche que je bois, avec cette soif qui jamais ne passe. Toi :
le printemps lumineux de mon espoir,
la plus certaine certitude que je t'aime, comme toi,
tu m'aimes, jusqu'à ce bout du monde que tu m'as donné.


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José Simões de Almeida jr.
Inês de Castro (1879)
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