O amor eterno


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Nuno Júdice »»
 
A Fonte da Vida (1997) »»
 
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O amor eterno
L'amour éternel


E agora que as mãos da incrédula
rapariga te empurram para a saída,
onde irá chover, de acordo com
a cor do céu, não resistas. Na rua,
onde os ventos se cruzam na esquina,
os que sopram, do norte, de colinas
manchadas pelo inverno, e os que
nascem do rio, trazendo a impressão
húmida do litoral, acende um cigarro,
para que o calor do lume te reconforte
as mãos, avança pelo passeio, enquanto
o frio te deixar, e ouve o canto da água
por baixo de terra: correntes
no limite entre o gelo
e o fogo, uma evaporação de humores,
como se as almas lutassem em busca de
saída, e, no fumo de uma memória
de mesa antiga, tu e essa que amaste,
trocando as frases matinais do re-
encontro. Vidros embaciados pelas
lágrimas da ruptura, perguntas sem
resposta, a casa de luzes
apagadas, como se estivesse vazia - e como
se não soubesses que os destinos se decidem
por cima de nós, onde em cada instante
um deus cansado nos desfaz as inúteis
promessas de eternidade.

Et puisque les mains de la fille
incrédule te pousse vers la sortie,
où il va pleuvoir, en accord avec
la couleur du ciel, ne résiste pas. Les vents
se croisent à l'angle de la rue, il y a
ceux du nord qui soufflent des collines
mouchetées par l'hiver, et ceux qui
nés du fleuve, apportent l'humide
sensation de la côte ; allume une cigarette,
pour que la chaleur du feu te réchauffe
les mains, avance sur le trottoir, et tandis
que le froid t'abandonne, écoute le chant de l'eau
sous la terre : courants
à la frontière entre la glace
et le feu, une évaporation des humeurs,
comme si les âmes luttaient en cherchant
la sortie, et, dans la fumée du souvenir
d'une ancienne tablée, toi et celle que tu aimais,
échangeaient les phrases matinales des re–
trouvailles. Les verres embués par
les larmes de la rupture, et des questions sans
réponse, la maison aux lumières
tamisées, comme si elle était vide – et comme
si tu ne savais pas que les destins se décident
au-dessus de nous, là où à chaque instant
un dieu fatigué nous délie des inutiles
promesses d'éternité.


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Night. (at Bryant Park) - New York City
photographiée par Vivienne Gucwa

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