Funerais


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Funerais
Funérailles


Nos funerais encontramos a família.
Nunca fomos tão claros
como no luto
e nas memórias anedóticas
que amenizam o morto.
Que sangue é o teu
para que o meu se assemelhe?
Alguns velhos trazem flores
que já ofereceram nos casamentos
e entre eles decidem
que somos uma família,
conhecem os primos que não
conheço, lamentam a sorte
daqueles cuja sorte é conhecida,
são ainda mais graves
do que nós, e usam
diminutivos carinhosos.
O meu nome far-se-á pó
com o meu corpo, pensa
uma mulher que já é viúva,
há irmãos completamente mudos
e as crianças jogam à cabra-cega.
Seguimos em cortejo
compondo as gravatas,
o vento não percebe que morreu gente.
Dez pessoas acompanham o padre,
os outros já não se lembram
das orações,
dez pessoas pensam
no que têm pela frente,
os outros acompanham o caixão.
O coveiro mais novo
dentro de pouco tempo
enterrará o mais velho.
Lors des funérailles nous retrouvons la famille.
Nous n’avons jamais été aussi clairs
que dans le deuil
et les souvenirs anecdotiques
qui rendent le mort plus avenant.
  Quel sang est le tien
pour qu'au mien il ressemble ?
Certains vieux apportent des fleurs
déjà offertes à des mariages
et décident entre eux
si nous sommes de la famille,
ils connaissent des cousins que je ne
connais pas, se lamentent sur le sort
de ceux dont le sort est connu,
sont encore plus graves
que nous, et font usage
d'affectueux diminutifs.
  Mon nom redeviendra poussière
avec mon corps, pense
une femme déjà veuve,
il y a des frères complètement muets
et des enfants qui jouent à colin-maillard.
Nous suivons le cortège
composé de cravates,
le vent ne remarque pas que des gens sont morts.
Dix personnes accompagnent le prêtre,
les autres ne se souviennent déjà plus
des prières,
dix personnes pensent
à leurs affaires,
les autres accompagnent le cercueil.
Le plus jeune des fossoyeurs
  dans peu de temps
enterrera le plus âgé.
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André Derain
Funérailles (1899)
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