Os domingos de Lisboa


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Os domingos de Lisboa
Les dimanches de Lisbonne


«Os domingos de Lisboa são domingos
terríveis de passar», mais terrível
este verso ter quarenta anos.

Tenho menos de quarenta, prazo
de alegrias, mas ao domingo
é p’los domingos que tenho tristeza.

Os domingos em que não soube
e se soubesse não seria diferente,
os domingos de pó e naftalina.

Os domingos sem pão e sem
correio, dia do Senhor
que morreu à sexta-feira.

Os domingos de arrumações,
de matutinos do mês passado,
da sesta hipocondríaca na cama maior.

Os domingos decrescentes,
dia em que se envelhece, missa
para os que são de missa,

futebol para os da bola,
e para as famílias almoços
em melancólicos restaurantes,

parques e lojas onde também
estou, passeando com os olhos
os filhos, saudáveis, dos outros.
« Les dimanches de Lisbonne sont dimanches
terribles à supporter », et plus terrible
encore ces vers ont quarante ans.

J'en ai moins de quarante, date limite
pour les joies, mais le dimanche
c'est par les dimanches que je suis triste

Ces dimanches dont je ne savais rien
et de savoir, eussent-ils été différents
ces dimanches de cendre et de naphtaline.

Ces dimanches sans pain et sans
courrier, jour du Seigneur
qui mourut un vendredi.

Ces dimanches de vide-greniers,
de grasses matinées du mois passé,
de siestes hypocondriaques dans le grand lit.

Ces dimanches décroissants,
de journée où l'on vieillit, de messe
pour ceux qui vont à la messe,

de football pour ceux qui aiment le ballon,
et de déjeuners pour les familles
dans des restaurants mélancoliques,

parcs et magasins où je vais aussi
me promener, flâneur regardant
les enfants en bonne santé des autres.
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Seurat
Une baignade à Asnières (1883-1884)
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