Nietzsche


Nom :
 
Recueil :
 
Autre traduction :
Gilberto Nable »»
 
Percurso da Ausência (2006) »»
 
Italien »»
«« précédent /  Sommaire / suivant »»
________________


Nietzsche
Nietzsche


 para Oswaldo Giacóia

Nasci póstumo.
Nunca em vida me leram, sequer me ouviram.
Vem da sala de pensão esta música de piano,
nem bela, nem triste,
nos confins de Turim, onde me exilo.
No entanto, ninguém passarà, sem medo,
diante de minha alegria trágica.

Sou o viandante e minha própria sombra.
Lá fora, depois do vento frio e da chuva,
surgirá a manhã, em inviolável segredo.
No fundo da praça deserta,
ao lado de uma árvore, somente um banco.
Mas, bem cedo, sob um sol parado,
reiniciarei minha absurda caminhada.

Eu sou eu, não me confundam!
Sobretudo não fui eu quem criou,
ao longo de confusos milênios,
nenhuma ilusão metafísica.
Quanta verdade suporta um espírito?
No mundo não existem certezas imediatas.
O que o Olho vê? Apenas outro Olho
dentro do mesmo terrível Olho.

Nem mais, nem menos.

 pour Oswaldo Giacóia

Je suis né post-mortem.
Jamais ils ne m'ont lu de ma vie, ni même entendu.
D'une salle de pension vient cette musique de piano,
ni belle ni triste,
Dans les banlieues de Turin, où je m'exile.
Cependant, personne ne passera,
Sans peur, devant ma joie tragique.

Je suis le passant et mon ombre elle-même.
Là dehors, après le vent froid et la pluie,
Surgira le matin, dans son inviolable secret.
Au fond de la place déserte,
À côté d'un arbre, il y a juste un banc.
Mais bientôt, sous le soleil étale,
Je vais recommencer mon absurde marche.

Je suis moi, ne me confondez pas !
Surtout, je ne suis pas celui qui a créé,
Au long de millénaires confus,
La moindre illusion métaphysique.
Combien de vérité un esprit peut-il supporter ?
Dans le monde il n'existe pas de certitudes immédiates.
Que voit l'Œil? Si ce n'est un autre Œil
Au-dedans du même Œil, terrible.

Ni plus, ni moins.

________________

Edvard Munch
Ritratto di Friedrich Nietzsche (1906)
...

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire

Nuage des auteurs (et quelques oeuvres)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant'Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (38) Ana Elisa Ribeiro (18) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (43) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (40) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (39) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (429) Pássaro de vidro (52) Poemas Sociais (30) Poèmes inédits (248) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)