Acontece, às vezes, que sou demasiado velho...


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Acontece, às vezes, que sou demasiado velho...
Il arrive parfois que je sois bien trop vieux...


« J'ai plus de souvenirs que si j'avais mille ans. »
    Charles Baudelaire

Acontece, às vezes, que sou demasiado velho.
Caudaloso, transbordo das margens,
Sinto-me maior que a ciência do tempo
E nada há que eu não tenha feito
E não há espesso cansaço que eu não conheça.
Tudo parece repetir-se
No fluxo de um ciclo conhecido e fechado,
Tudo possui um eco dentro da minha idade.
Já não me espanto somando as ruas
E as gentes com as estações.
O timbre da lágrima ou do riso sobre a página
Despertam o verso mais citado,
O verso que, de tão famoso, é já silêncio.
Venci a densa questão e o medo e a maravilha.
Acontece, às vezes, que sou demasiado velho,
Que em mim a vida mata por ser infinita.




Il arrive parfois que je sois bien trop vieux.
Emporté par le flot, franchissant les limites,
Me sentant plus fort que la science du temps
Et il n'est rien que je n'ai déjà fait
Et il n'est de fatigues harassantes que je n'ai connues.
Tout semble alors se répéter
Dans le flux d'un cycle parcouru déjà et fermé,
Tout a un écho au-dedans mon âge.
Je ne m'étonne plus d'avoir fait la somme
De tant de rues et de gens avec les saisons.
Le goût d'une larme ou d'un sourire sur la page
Réveille en moi ce vers souvent cité,
Ce vers tellement célèbre, qu'il en devient silencieux.
J'ai soulevé, lourde la question, et la peur et la merveille.
Il arrive parfois que je sois bien trop vieux,
Quand la vie meurt en moi d'être infinie.

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Albrecht Dürer
Saint Jérôme dans sa cellule (1514)

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