Da epiderme da madeira


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Da epiderme da madeira
De l’épiderme du bois


Da mão calejada que empunha a enxada,
e maneja, segura, a foice e o martelo,
o tempo que tudo plaina e configura,
vai, aos poucos, criando outro tecido.
A pele frágil da mão e a pele da madeira,
no atrito diário e áspero do trabalho,
anos e anos, dão aos instrumentos aparências,
e sopros de coisas mais vivas e humanas.
Pois, nestas terras, sempre foi dura a lida,
aqui cedo se levanta, aqui cedo se capina,
cedo esfarela e mói a mão de um pilão,

e Deus não ajuda quem cedo madruga.


Par la main calleuse qui empoigne la houe
Et manie fermement la faucille et le marteau,
Le temps qui lime tout, rabote et configure,
Créant peu à peu, un autre matériau.
La peau fragile de la main – celle du bois,
Dans la friction des jours et l’âpreté du travail,
Donne aux instruments, l'année l'autre l'apparence,
Le souffle des choses vives plus humaines.
Mais dure est toujours le labeur sur cette terre,
Pour ceux qui se lèvent tôt, celle qui tôt s’échine1
Qui tôt émiette et broie, le pilon à la main

Mais Dieu n'aide pas ceux qui se lèvent tôt.

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Cãndido Portinari
Récolte du caoutchouc (1948)

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