Elogios de Cesar Vallejo - V


Nom :
 
Recueil :
 
Autre traduction :
Gilberto Nable »»
 
Poemas do Desalento & Alguns Elogios (2019) »»
 
Italien »»
«« précédent /  Sommaire / suivant »»
________________


Elogios de Cesar Vallejo

V
Éloge de Cesar Vallejo

V


Nada temas. A morte é assim.
Acaba que ninguém faz falta,
pois restará sempre um consolo.
Perto daqui um doente dorme,
depois da dose diária de morfina,
a boca revirada para cima,
os dois pés descobertos.
Um nadinha a mais,
um nadinha a menos,
e lá vai ser enterrado,
surdo à sua barriga inchada,
diante da qual os médicos costumavam
cavilar e discutir demoradamente,
para, afinal, vencidos, pronunciar
suas banais palavras de homens.
A família rodeia o paciente, falando baixinho,
agrupando-se diante de suas têmporas indefesas.
Já não existe lar, a não ser ali, só ali,
em torno da mesinha esmaltada de branco,
onde montam guarda seus chinelos vazios.
A morte se aninha ao pé da cama,
para dormir nas águas tranquilas.
De repente se isola, com biombos, um leito.
Os biombos são as velas enfunadas do barco,
por onde o defunto descerá aos solavancos.
Médicos e enfermeiras trocam olhares furtivos.
Desinfeta-se, rapidamente,
o colchão plástico,
e, logo, no mesmo local,
estará outro doente,
ocupando o posto,
em decúbito dorsal,
olhando para o teto.


N'est crainte. La mort est ainsi.
À la fin personne ne fait défaut,
et puis il y aura toujours une consolation.
Près d'ici après sa dose quotidienne
de morphine, dort un malade,
bouche en haut, renversé
les deux pieds découverts.
Un petit peu plus,
un petit peu moins
et il sera enterré,
sourd à son ventre gonflé,
devant lequel les médecins ont l'habitude
d'ergoter et de discuter minutieusement,
pour vaincus, prononcer finalement
ces paroles banales des hommes.
La famille entoure le patient, lui parle à voix basse,
attroupée devant ses tempes sans défense.
Déjà n'existe plus de Lares, excepté ici, rien qu'ici,
autour de cette petite table émaillée de blanc,
où ses pantoufles vides montent la garde.
La mort nichée au pied du lit,
s'en va dormir dans les eaux tranquilles.
Soudain, on isole avec des paravents, un lit.
Les paravents sont les voiles gonflées du bateau,
où le défunt descendra en brinquebalant.
Médecins et infirmières échangent des regards furtifs.
Ils ont désinfecté rapidement
le matelas plastifié,
et, d'ici peu, au même endroit,
il y aura un autre malade,
occupant le poste,
en décubitus dorsal,
regardant au plafond.

________________

Silvestro Lega
Mort de Giuseppe Mazzini (1873)
...

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire

Nuage des auteurs (et quelques oeuvres)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant'Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (38) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (43) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (40) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (39) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (432) Pássaro de vidro (52) Poemas Sociais (30) Poèmes inédits (250) Reinaldo Ferreira (10) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)