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Nuno Júdice »»
 
Um Canto na Espessura do Tempo (1992) »»
 
Italien »»
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O homem que falava sozinho na estação central de munique
L'homme qui parlait seul dans la gare centrale de Münich
que língua falava? Que língua falam os que se perdem assim, nos
quelle langue parlait-il ? Quelle langue parle ceux qui se perdent ainsi dans
corredores das estações de comboio, à noite, quando já nenhum
les corridors des stations de chemins de fer, à la nuit, quand déjà plus
quiosque vende jornais e cafés? O homem de
aucun kiosque ne vend de journaux ni de café ? L'homme de
munique não me pediu nada, nem tinha o ar de
Münich ne me sollicitait en rien, n'avait pas l'air de
quem precisasse de alguma coisa, isto é, tinha aquele ar
quelqu'un ayant besoin de quelque chose, c'est-à-dire qu'il avait l'air
de quem chegou ao último estado
d'un homme arrivé à cet ultime état
que é o de quem não precisa nem de si próprio. No entanto,
que prenne ceux qui n'ont même plus besoin d'eux-mêmes. Cependant
falou-me: numa língua sem correspondência com linguagem
il me parla : mais dans une langue sans correspondance aucune
alguma de entre as possíveis de exprimirem emoção
avec celles dans lesquelles il est possible d'exprimer une émotion
ou sentimento, limitando-se a uma sequência de sons cuja lógica
ou un sentiment, se limitant à une succession de sons dont la nuit
a noite contrariava. Perguntar-me-ia se eu compreendia acaso
contrariait la logique. Me demandait-il par hasard si je comprenais
a sua língua? Ou queria dizer-me o seu nome e de onde vinha
sa langue ? Ou voulait-il me dire son nom, d'où il venait
— àquela hora em que não estava nenhum comboio
— à cette heure où plus aucun train
nem para chegar nem para partir? Se me dissesse isto,
n'arrive ni ne part ? S'il m'avait dit cela,
ter-lhe-ia respondido que também eu não esperava ninguém,
je lui aurais répondu que moi aussi je n'attendais personne,
nem me despedia de alguém, naquele canto de uma estação
ni ne prenais congé de personne sur le quai d'une gare
alemã; mas poderia lembrar-lhe que há encontros que só      dependem
allemande ; mais j'aurais pu lui rappeler aussi qu'il y a des rencontres      qui ne dépendent
do acaso, e que não precisam de uma combinação prévia
que du hasard, et qu'elles n'ont pas besoin de dispositions préalables
para se realizarem. – É então que os horóscopos adquirem sentido;
pour se réaliser. — c'est alors seulement que les horoscopes ont du sens ;
e a própria vida, para além deles, dá um destino à solidão
     que empurra
et la vie elle-même, au-delà d'eux, donne un destin à la solitude
     qui pousse
alguém para uma estação deserta, à hora em que já não
     se compram
quelqu'un dans une station déserte, à l'heure où déjà ne s'achètent plus
     les journaux
jornais nem se tomam cafés, restituindo um resto de alma ao corpo
ni ne se prennent les cafés, restituant un peu d'âme au corps
ausente — o suficiente para que se estabeleça um diálogo, embora
absent — suffisamment pour que s'établisse un dialogue, bien que
ambos sejamos a sombra do outro. É que, a certas horas
     da noite,
chacun de nous. ne soit que l'ombre de l'autre. Il y a qu'à certaines heures
     de la nuit,
ninguém pode garantir a sua própria realidade, nem quando outro
personne ne peut garantir sa propre réalité, ni même quand l'autre
como eu próprio, testemunhou toda a solidão do mundo
comme moi-même, témoigne de toute la solitude du monde
arrastada num deambular de frases sem sentido numa estação morta.
emportée par un flot insensé de phrases dans une gare morte.

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Anselm Kiefer
Abendland (Occident) (1989)
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