À distância


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Iacyr Anderson Freitas »»
 
A soleira e o século (2002) »»
 
Italien »»
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À distância
À distance


Tudo que digo
já nasce com vinte séculos de idade.
Este verso tem mil e duzentos anos.
Tu, leitor, és apenas uma miragem
da antiguidade.

À distância
te assemelhas a uma coluna grega.
És uma coluna grega
uma esfinge um manuscrito
uma odisséia.

Agora sabes
essa palavra demasiado escura
para o teu desterro.

No céu da boca
essa palavra ecoa, fica doendo.
Ali
há uma brisa entre folhagens
onde o tempo retrocede.

Uma brisa congelada entre palavras.

Nesse momento sabes
que Sísifo empurra a sua pedra,
que a súplica vem ferir novamente
os trinta mil anos que acorrentaram
Prometeu a seu pecado.

Nesse momento sabes
que tudo está vivo em ti,
que em ti
tudo se revolve.
Tout ce que je dis
est né à l’âge de vingt siècles.
Ces vers ont mille deux cents ans.
Toi, lecteur, tu n’es qu’un mirage
de l’antiquité.

À distance
Tu ressembles à une colonne grecque.
Tu es une colonne grecque
un sphinx un manuscrit
une odyssée.

Tu connais maintenant
cette parole trop obscure
pour ton exil.

Contre le ciel de ta bouche
cette parole résonne, et fait mal.
Il y a
là-bas une brise parmi les feuillages
où le temps rétrocède.

Une brise gelée parmi les mots.

À ce moment-là, tu sais
que Sisyphe pousse sa pierre,
que, blessé de nouveau, vient la supplique
de Prométhée enchainé à son péché
depuis trente mille ans

À ce moment-là, tu sais
que tout est vivant en toi,
que tout
en toi se replie.
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Antonio Zanchi
Le labeur de Sisyphe (1660-1665)
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