Poema quotidiano


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Poema quotidiano
Poème quotidien


É tão depressa noite neste bairro
Nenhum outro porém senhor administrador
goza de tão eficiente serviço de sol
Ainda não há muito ele parecia
domiciliado e residente ao fim da rua
O senhor não calcula todo o dia
que festa de luz proporcionou a todos
Nunca vi e já tenho os meus anos
lavar a gente as mãos no sol como hoje
Donas de casa vieram encher de sol
cântaros alguidares e mais vasos domésticos
Nunca em tantos pés
assim humildemente brilhou
Orientou diz-se até os olhos das crianças
para a escola e pôs reflexos novos
nas míseras vidraças lá do fundo

Há quem diga que o sol foi longe demais
Algum dos pobres desta freguesia
apanhou-o na faca misturou-o no pão
Chegaram a tratá-lo por vizinho
Por este andar... Foi uma autêntica loucura
O astro-rei tornado acessível a todos
ele que ninguém habitualmente saudava
Sempre o mesmo indiferente
espectáculo de luz sobre os nossos cuidados
Íamos vínhamos entrávamos não víamos
aquela persistência rubra. Ousaria
alguém deixar um só daqueles raios
atravessar-lhe a vida iluminar-lhe as penas?

Mas hoje o sol
morreu como qualquer de nós
Ficou tão triste a gente destes sítios
Nunca foi tão depressa noite neste bairro
La nuit est pressée de tomber dans ce quartier
Toutefois personne d'autre que l'administrateur
ne bénéficie d'un service solaire aussi efficace
Il n'y a pas si longtemps il semblait être
domicilié et résider au bout de la rue
Ce monsieur ne calculait pas tout le temps
quelle fête de lumière accorder à tout un chacun
Je n'ai jamais vu personne malgré mon âge
se laver les mains au soleil comme aujourd'hui
Les femmes au foyer sont venues garnir de soleil
les poteries jarres et autres vases domestiques
Jamais il n'a sur autant de pieds
aussi humblement brillé. Vers l'école
orienté dit-on jusqu'au yeux des enfants
et mis là dans le fond de nouveaux reflets
aux vitres misérables des fenêtres

Il y en a qui disent que le soleil est allé trop loin
Certains des pauvres de cette paroisse
l'ont attrapé au couteau et mélangé avec du pain
On a même fini par le considérer comme un voisin
Du moins à cet étage ... Une authentique folie
L'astre-roi devenu accessible à tous
lui que personne habituellement n'accueille
Toujours le même indifférent
spectacle de lumière sur nos soucis
Nous allions venions, entrions sans jamais voir
cette persistance rouge. Quelqu’un
oserait-il laisser un seul de ces rayons
traverser sa vie et illuminer ses peines ?

Mais aujourd'hui le soleil
est mort comme n'importe lequel d'entre nous
Les gens d'ici étaient si tristes qu'il n'y eut jamais
dans ce quartier une nuit aussi pressée de tomber
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Gino Severini
Paysage toscan (1912-1913)
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