Depois do leite materno...


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Depois do leite materno...
Après le lait maternel...


Depois do leite materno
E do mosto paterno,
Dos dias plácidos,
Das urtigas e dos silvados,
Dos joelhos esfolados,
Das tareias e poluções,
As noites como livros,
O mal pelo asfalto,
As festas a que não se pertence
E o amor opressivo,
Profundamente estranho.
A terra começa a exalar
A fetidez antepassada,
O sol começa a mostrar
O seu verdadeiro rosto
De demoras e omissões,
Excessos abrasadores.
A paisagem, o betão,
Já não se vestem
De ternura alguma,
De paraíso algum.
É preciso lidar
Um fogo posto
Que recusa morrer,
Um fogo a ganhar raízes
E cada vez mais alto,
Que dura para além
Do seu combustível,
Fogo malévolo e salvífico,
Hoste a engrossar no coração
Em gotas de demónio,
Polvorosa dos anjos.
Pródigo é o filho agreste
Que não volta nunca
A esta devastação.
Só a distância lhe servirá –
Só assim poderá restar
Alguma coisa
De prédios amados,
E dos ossos de antepassados,
Do pó amado,
Último reduto da carne.
O remorso do pródigo
Reverdece tudo.

Après le lait maternel
Et le sang paternel,
Les jours tranquilles,
D'orties et de broussailles,
Les genoux écorchés,
Les bagarres et les pollutions,
Des nuits comme des livres,
Le mal sur l'asphalte,
Les fêtes où l'on est sans se trouver
Et l'amour oppressant,
Profondément étrange.
La terre commence à exhaler
La fétidité ancestrale,
Le soleil commence à montrer
Son vrai visage
D'atermoiements et d'omissions,
De brûlures excessives.
Le paysage, le béton,
ne revêtent plus désormais
Aucune tendresse,
Aucun paradis.
Il faut alors faire face
à l'incendie criminel
Qui refuse de mourir,
Le feu qui prend racine
Chaque fois plus haut,
Qui dure au-delà
De sa combustion,
Feu maléfique et salvifique,
Troupe qui enfle dans le cœur
Gouttes démoniaques,
Ce tumulte d'anges.
Prodigue et rude est le fils
Qui jamais ne revient
Sur cette dévastation.
Seule la distance lui servira –
Ainsi seulement pourra rester
Quelque chose
Des demeures aimés,
Des ossements des ancêtres,
Et des cendres aimées,
Dernier bastion de la chair.
Le remords du prodigue
Viendra tout reverdir.

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Gregorio di Cecco
Vierge de l'humilité (1423)
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