Através da chuva e da névoa


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Através da chuva e da névoa
Au travers de la pluie et du brouillard


Chovia e vi-te entrar no mar
longe de aqui há muito tempo já
ó meu amor o teu olhar
o meu olhar o teu amor
Mais tarde olhei-te e nem te conhecia
Agora aqui relembro e pergunto:
Qual é a realidade de tudo isto?
Afinal onde é que as coisas continuam
e como continuam se é que continuam?
Apenas deixarei atrás de mim tubos de comprimidos
a casa povoada o nome no registo
uma menção no livro das primeiras letras?

Chovia e vi-te entrar no mar
ó meu amor o teu olhar
o meu olhar o teu amor
Que importa que algures continues?
Tudo morreu: tu eu esse tempo esse lugar
Que posso eu fazer por tudo isso agora?
Talvez dizer apenas
chovia e vi-te entrar no mar
E aceitar a irremediável morte para tudo e todos
Il pleuvait et je t'ai vu entrer dans la mer
loin d'ici il y a longtemps déjà
ô mon amour ton regard
mon regard ton amour
Plus tard je t'ai vu mais sans te reconnaitre
Maintenant ici je me souviens et m'interroge :
Quelle est la réalité de tout ceci ?
Finalement où vont les choses
et comment vont-elles si elles s'en vont ?
Laisserais-je derrière moi le tube de comprimés
la maison habitée le nom dans le registre
une mention dans le livre des belles-lettres ?

Il pleuvait et je t'ai vu entrer dans la mer
ô mon amour ton regard
mon regard ton amour
Qu'importe si quelque part elles s'en vont ?
Tout meurt : toi moi ce temps cet endroit
Que puis-je faire pour tout ceci maintenant ?
Dire peut-être simplement
il pleuvait et je t'ai vu entrer dans la mer
Accepter la mort irrémédiable pour tout et tous.
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Salvador Dali
Printemps nécrophilique (1936)
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