Linhas aéreas


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Linhas aéreas
Compagnies aériennes


Comer no avião é triste.

Só há um prato: ilusão.
A comida não existe.
Aceitamos. Mastigamos.
O som das batatas chips
quebrando-se contra os dentes
é o rádio que nos embala
com sua gordura e seu plástico.

Poucas coisas são mais tristes

do que comer no avião.
Diante da mesa retrátil
aguardamos enganados.
Tudo não passa de alpiste.
Somos pássaros de acrílico
e éramos tigres famintos
de banquetes improváveis.

Ter de comer no avião.

Pobres de nós – como é triste.
E se os mortos retornassem?
E se os deuses existissem
pisando o mesmo tapete?
O que diríamos nós
de tamanha humilhação
e do acanhado apetite?

Coca zero. Tudo zero.

Metendo o nariz nas nuvens
– nas tristes tripas de nuvem
das nuvens – comer é triste
e é nada se não comemos
estrelas ou pelo menos
um bife que se pareça
com elas – a luz! – quem dera.
Manger en avion est triste.

Il n'y a qu'un seul plat : l'illusion.
La nourriture n'existe pas.
On l'accepte. On mâchonne.
Le bruit des pommes chips
qui craquent sous nos dents
est la radio qui nous berce
avec sa graisse et son plastique.

Peu de choses sont plus tristes

que de manger en avion.
Devant la tablette rétractable
Nous attendons grugés.
Rien que des graines pour oiseaux
des oiseaux en acrylique nous
qui étions des tigres affamés
prêts à des festins improbables.

Devoir manger en avion.

Pauvres de nous, quelle tristesse !
Et si les morts revenaient ?
Et si les dieux existaient,
foulant le même tapis ?
Que dirions-nous
d'une telle humiliation
et d'un si faible appétit ?

Coca zéro. À tout zéro.

Avoir le nez dans les nuages
– dans les tristes entrailles
des nuages – manger est triste
et ne sert à rien si nous n'avons
pas des étoiles à manger ou
du moins un steak qui ressemble
à leur – lumière ! – si seulement.
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Andy Warhol
Cinq bouteilles de Coca (1962)
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