A sua infância foi um país ocupado...


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A sua infância foi um país ocupado...
Son enfance fut un pays occupé...



«A sua infância foi um país ocupado por entidades detes-táveis que impediam as árvores de lhe falar.
« Son enfance fut un pays occupé par des entités détestables qui empêchaient les arbres de lui parler.
(Mais tarde, na adolescência, imaginou que engravidara de um limoeiro – ou foi o perfume do seu sexo que o sonhou, ou foi o perfume do seu sexo que foi sonhado, talvez pelo limoeiro.)
(Plus tard, à l'adolescence, elle s'imagina être enceinte d'un citronnier – Ou bien ce fut le parfum de son sexe qui le rêvait, ou peut-être le parfum de son sexe qui fut rêvé, par le citronnier.)
***
***
Nunca pôde amuar, como as flores se fecham com a noite.
Jamais elle ne pouvait bouder comme les fleurs qui se ferment la nuit.
Obrigavam-na a sorrir educada, perfiladamente, espe-tavam-lhe duas bofetadas e obrigavam-na a levantar a cabeça, a erguer os olhos pesados de choro, e a gordura das lágrimas caía-lhe pela face e ouvia-se no chão.
Ils l'ont obligée à sourire poliment, de profil, l'ont giflée par deux fois et l'ont forcée à redresser la tête, les yeux lourds de larmes, et la graisse de ses larmes coulaient de ses joues jusqu'à toucher le sol.
***
***
A sua infância é um país ocupado até hoje.
Son enfance est un pays encore occupé aujourd'hui.
***
***
(A sua vida pareceu-lhe sempre uma longa convalescença. Ou qualquer coisa que lhe foi emprestada. Uma presença emprestada – para quê?
(Sa vie lui a toujours semblé une longue convalescence. Ou quelque chose qui ne lui fut que prêtée. Une présence d'emprunt – mais pour quoi ?
A existência parecia-lhe apenas um estado sólido da tristeza mais absoluta. Ou talvez lhe faltasse apenas paciência para viver.
L'existence ne lui semblait que l'état solide d'une tristesse absolue. Ou peut-être manquait-elle simplement de patience pour vivre.
Vive por engano? Se morreu, quer saber. Se vive, quer saber.
Vivait-elle par erreur ? Morte, elle veut savoir. Vivante, elle veut savoir.
Espera um sinal de si própria. Espera algo que, dentro dela, arda mais alto do que ela.
Elle attend un signal de sa part. Elle attend que quelque chose en elle brûle plus haut qu'elle-même.
Um signo que, ao erguer-se, toque e faça girar uma constelação.)»
Un signe, en se levant, qui touche et fasse tourner une constellation.) »

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Henri Rousseau, Le Douanier
Femme se promenant dans une forêt exotique (1905)

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