O fio da vida


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Rui Knopfli »»
 
Mangas Verdes com Sal (1969) »»
 
Italien »»
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O fio da vida
Le fil de la vie


Há homens que rezam na penumbra
das catedrais dolentes e há outros
que do alto das pontes olham
a escuridão rumorejante das águas.
Há homens que esperam na orla
marítima e outros arrastando-se
no viscoso esterco dos subterrâneos.
Há homens debruçados em pleno azul
e outros que deslizam sobre densos verdes;
há os desatentos na atenção e os que
espreitam atentamente a ocasião.
Há homens por fora e por dentro
do cimento armado, suspensos
das mil ciladas do quotidiano voraz;
de encontro aos muros, às paredes,
ao sol do meio-dia, ao visco da noite,
às sediças solicitações de cada instante.
Há a impotência poderosa da oração
e a obsessão amarga dos suicidas
e, de permeio, os que, porque hesitam,
porque ignoram, porque não crêem,
não oram, nem se suicidam
e se quedam ante a impossibilidade de destrinça
entre o fio da vida e a vida por um fio.
Il y a des hommes qui prient dans la pénombre
des cathédrales de la douleur et il y en a d'autres
qui du haut des ponts regardent
l'obscurité des eaux rugissantes.
Il y a des hommes qui attendent sur le bord
de la mer et d’autres qui se traînent
dans l'ordure visqueuse des souterrains.
Il y a des hommes affalés en plein bleu
et d'autres qui glissent sur la densité du vert ;
Il y a les inattentifs dans l'attention et ceux
qui guettent attentivement l'occasion.
Il y a des hommes au-dehors et au-dedans
du béton armé, suspendus aux mille
embûches du quotidien vorace ;
contre les murs et les parois,
au soleil de midi, sous le gui de la nuit,
devant l'usure des sollicitations de chaque instant
Il y a la puissante impotence de la prière
et l’obsession amère des suicidés
et, parmi eux, il y a ceux qui, parce qu’ils hésitent,
parce qu’ils ignorent, parce qu’ils ne croient pas,
ne prient pas ni ne se suicident,
se trouvent confrontés à l'impossibilité de démêler
le fil de la vie et la vie qui ne tient qu'à un fil.
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Ernst Ludwig Kirchner
Une communauté d'artistes (1925)
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