Também eu sei muita coisa...


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Também eu sei muita coisa...
Moi aussi je sais beaucoup de choses ...


Também eu sei muita coisa
Que sedimenta na idade e na voz,
Coisas inúteis de que o tempo se desinteressa,
Saber do passado convocado
Nessas páginas de um sono,
Uma inércia.
Vou aprendendo tanta coisa inútil,
Vou abrindo gaveta após gaveta
E esses baús ciosamente velados
Por pó e treva.
Afinal eu só sei aprender,
Eu só sei saber,
Afinal tudo o que faço é para saber,
Os dias sopram para serem sabidos,
Tudo em si é uma ciência mínima,
Murmura, inapreensível de tão mínima,
Mas saber afinal.
Quanto mais aprendo desta vida,
Inutilidades, minúcias, pormenores,
Quanto mais aprendo a viver
Mais morto me sei.
A minha vida é aprender a morte.
Moi aussi je sais beaucoup de choses
Qui dans la voix sédimentent avec l’âge,
Des choses inutiles dont l'époque se désintéresse,
Savoir convoqué du passé
Dans ces pages venus d’un sommeil,
D'une inertie.
J’apprends chaque jour tant de choses
Inutiles, j’ouvre tiroir après tiroir
Et ces coffres jalousement voilés
Par la poussière et l’obscurité.
Mais finalement, je ne sais qu'apprendre
Je ne sais que savoir
Finalement, ce que je fais je le fais pour savoir,
Les jours n'existent que pour être connus.
Tout, aussi minime soit-il, est science.
Murmure, insaisissable d'être infime à ce point.
Mais que sais-je au final
Plus j'apprends de cette vie
Inutilités, vétilles, superfluités
Plus j'apprends à vivre
Plus j'appréhende la mort
Ma vie est d'apprendre à mourir.
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Felice Casorati
Nature morte avec casque (1947)
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