Amor de Goya


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António Osório »»
 
O lugar do amor (1981) »»
 
Italien »»
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Amor de Goya
Amour de Goya


Qual das duas, a nua ou a vestida,
contém a sua alma? Seguramente
ambas percorreu poro a poro,
afundou-se no seu peito, na suave
cratera do ventre, na fenda
gulosa que nenhum filho lhe deu
e no bosquete, no acre perfume das axilas;
beijou em ambas os olhos tremendamente
  inexplicáveis,
ponto equidistante dos lábios e sua delicada união,
tocou-lhes na anca, nessa parte
que nem a garupa do mais esbelto dos seus cavalos
excedeu alguma vez
e acariciou-lhes os joelhos,
implorando, sem palavras, morrer entre eles.

Se pudesse trocar de alma, a tua, Goya,
escolheria. Felicidade da pintura:
eis vivo, duplo, evidência cósmica, o que amaste
e tu dentro delas, sangue, carnação, a luz
distante, orgulhosa, dolorida de seus olhos.
Laquelle des deux, la nue ou la vêtue,
a retenu son âme ? Il a, c'est sûr,
exploré l'une et l'autre, pore après pore,
s'enfonçant dans la poitrine, dans le suave
cratère du ventre, dans la fente
gourmande qui ne lui donna aucun enfant
et dans le bosquet, dans l'acre parfum des aisselles ;
il a embrassé les yeux des deux, terriblement
  inexplicables,
le point équidistant des lèvres et de leur délicate union,
il leur a touché cette partie des hanches
que même la croupe du plus svelte de ses chevaux
n'a jamais surpassée,
il leur a caressé les genoux,
suppliant, sans paroles, en voulant y mourir.

Si je pouvais changer mon âme, je choisirais
la tienne, Goya. Vivant, double, le voici
le bonheur de peindre : évidence cosmique de ton amour,
et de toi en elles, le sang, la chair, la lumière
distante, fière, douloureuse des yeux.
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Francisco Goya
La maja vêtue (1800 env.)
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