Uma gaivota viesse


Nom :
 
Recueil :
 
Autre traduction :
Eucanaã Ferraz »»
 
Sentimental (2012) »»
 
Italien »»
«« précédent / Sommaire / suivant »»
________________


Uma gaivota viesse
Vienne une mouette


O amigo, em Lisboa, pergunta o que quero de Lisboa;
nada, respondo, não quero senão o que não vem nos
 postais
mais um ou dois postais de lugares onde nunca fui feliz

e, ainda assim, agora e sempre, eu quis, não quero,
 Alberto,
de Lisboa senão o que ela não dá, o que ela guarda e
 é preciso
roubar, a secreta alegria que não cabe nos guias de
 turismo,

quero isso, mais uma ou duas coisas que vêm nos guias
 de turismo.
Vê esses rapazes e moças de olhos azuis? São
 holandeses.
Esses deuses e essas flores azuis? São azulejos. Como
 trazê-los?

De nada valem os antiquários; quando voltamos de
 Lisboa, tudo
o que trazemos, percebemos, está partido, por isso,
 Alberto,
não vale a pena trazer nada, que daí só trazemos, sem
 dar conta,

o que nos parte,
o que nos corta,
mal fechamos a mala, mal abrimos a porta.
Mon ami lisboète me demande ce que j'aime à Lisbonne ;
rien, dis-je, je n'aime rien de ce qui est sur les cartes
  postales,
sauf une ou deux cartes des lieux où j'ai beaucoup souffert

néanmoins, dès lors et toujours, Alberto, si j'ai aimé,
  je n'aime
plus rien de Lisbonne, sauf ce qu'elle refuse, garde et
  qu'il faut
voler, la joie secrète introuvable dans les guides de
  voyage;

oui, ça je l'aime, plus une ou deux choses dans les guides
 de voyage.
Tu vois ces garçons, ces filles aux yeux bleus ?
  Des hollandais.
Ces dieux, ces fleurs bleues ? Des azulejos. Comment
  les emporter ?

Les antiquaires ne servent à rien ; de retour de
  Lisbonne, tout
ce que nous rapportons, on s'en aperçoit, est cassé, aussi
  Alberto,
mieux vaut ne rien rapporter, rends-toi compte, on ne
  rapporte

que ce qui nous brise,
que ce qui nous blesse,
une valise mal fermée, une porte mal ouverte.
________________

Tomas Navarro
Kintsukuroi (2018)
...

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire

Nuage des auteurs (et quelques oeuvres)

A. M. Pires Cabral (44) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Adão Ventura (41) Adélia Prado (40) Affonso Romano de Sant'Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alberto Pimenta (40) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (38) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antonio Brasileiro (41) Antonio Osorio (42) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Antônio Cícero (40) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (112) Casimiro de Brito (40) Cassiano Ricardo (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eucanaã Ferraz (1) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (40) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (30) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (48) Hilda Hilst (41) Iacyr Anderson Freitas (41) Inês Lourenço (40) Jorge Sousa Braga (40) Jorge de Sena (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (41) José Régio (41) José Saramago (40) José Tolentino de Mendonça (42) João Cabral de Melo Neto (43) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Luis Filipe Castro Mendes (40) Lêdo Ivo (33) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (33) Manuel Bandeira (39) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mario Quintana (38) Micheliny Verunschk (40) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Mário Cesariny (34) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (514) Paulo Leminski (43) Pedro Mexia (40) Poemas Sociais (30) Poèmes inédits (322) Pássaro de vidro (52) Reinaldo Ferreira (40) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Knopfli (43) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (48) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)