Não, a poesia não pode esperar...


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Ana Cristina Cesar »»
 
Inéditos e dispersos (1985) »»
 
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Não, a poesia não pode esperar...
Non, la poésie ne peut attendre...


Não, a poesia não pode esperar
O brigue toca as terras geladas do extremo sul.
Escapo no automóvel aos guinchos.
Hoje – você sabe disso? Sabe de hoje? Sabe que quando
digo hoje, falo precisamente deste extremo ríspido,
deste ponto que parece último possível?
A garganta sai remota,
longe de ti mal creio que te amo,
Corto o trânsito e resvalo
Que lugar ocupa este desejo de frutas?
Esta é a primeira folha aberta.
Non, la poésie ne peut attendre
Le brick touche les terres glacées de l'extrême sud.
Je m'échappe avec l'automobile aux grincements.
Aujourd'hui - le sais-tu ? Que sais-tu d'aujourd'hui ? Sais-tu que
disant aujourd'hui, justement je parle de cette rudesse extrême,
de ce point qui parait le dernier possible ?
Ma gorge part à la dérive,
loin de toi, j'ai peine à croire que je t'aime,
J'arrête le trafic et dérape
Quelle place occupe ce désir de fruits ?
Ceci est la première feuille ouverte.
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Juan Gris
Coupe à fruits et carafe (1914)
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