Monumento


Nom :
 
Recueil :
Source :
 
Autre traduction :
Nuno Rocha Morais »»
 
Poèmes inédits »»
nunorochamorais.blogspot.com (juin 2021) »»
 
Italien »»
«« précédent / Sommaire / suivant »»
________________


Monumento
Monument


Não há um monumento à estupidez. 
E, no entanto, ela prolifera
Mas talvez apenas se erga em bronze
A perpetuação de abstracções.
Quanto às estátuas dos grandes homens,
Nada acrescentam à sua grandeza,
Talvez irrepetível e, por isso, assustadora
De que foram, muitas vezes, expropriados.
A sua presença nada dirá aos vindouros:
Será objecto de curiosidade para uns,
E para outros, cada vez mais numerosos,
Não representará nada
Senão uma figura esverdeada
Pela merda das pombas e pelo esquecimento,
Que já não merece o centro de uma praça ou jardim.
Mas estes monumentos, em bronze ou pedra,
Estátuas ou bustos,
Representam, tantas vezes, um brinde
À nossa própria estupidez, perpetuada;
Representam a estupidez de uma geração
Que não soube merecer a grandeza
Dos homens que em sorte lhes couberam.
 
  – Não há um monumento à estupidez:
    A sua linhagem prolonga-se,
    A figuração de abstracções,
    Sejam homens ou animais,
    De valores de grandeza
    Representam o temor
    De que esses valores sejam irrepetíveis.

Il n'y a pas de monument à la stupidité.
Et, néanmoins, elle prolifère
Mais peut-être n'érige-t-elle en bronze
Que la perpétuation des abstractions.
Quant aux statues des grands hommes,
elles n'ajoutent rien à leur grandeur,
peut-être irremplaçable et donc effrayante,
dont elles ont été souvent expropriées.
Leur présence ne dira rien à ceux qui viendront :
Ce sera un objet de curiosité pour certains,
Et pour d'autres, chaque fois plus nombreux,
Cela ne représentera rien
si ce n'est une figure verdâtre
Pour la merde des colombes et pour l'oubli,
Qui ne mérite plus déjà le centre d'un square ou d'un jardin.
Mais ces monuments, en bronze ou en pierre,
Statues ou bustes,
Représentent, bien des fois, un cadeau fait
A notre propre stupidité, perpétuée ;
Représentent la stupidité d'une génération
Qui n'a pas su mériter la grandeur
Des hommes qui, par le sort, leur échoient.

  – Il n'y a pas de monument à la stupidité :
    Sa lignée se prolonge
    à la figuration des abstractions,
    qu'il s'agisse d'hommes ou d'animaux,
    et des valeurs de grandeur
    représentant la crainte
    Que ces valeurs ne soient pas reproductibles.

________________

Giorgio De Chirico
Place italienne avec statue équestre (1914)
...

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire

Nuage des auteurs (et quelques oeuvres)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant'Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (38) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (43) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (40) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (39) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (432) Pássaro de vidro (52) Poemas Sociais (30) Poèmes inédits (250) Reinaldo Ferreira (4) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)