Orquestra, flor e corpo


Nom :
 
Recueil :
 
Autre traduction :
David Mourão-Ferreira »»
 
Os quatro cantos do tempo (1953-1958) »»
 
Italien »»
«« précédent / Sommaire / suivant »»
________________


Orquestra, flor e corpo
Orchestre, fleur et corps


Orquestra, flor e corpo:
   doravante direi
Como do corpo a música se extrai,
Como sem corpo a flor não tem perfume,
Como de corpo a corpo o som se repercute.
 
Orquestra, sim: orquestra. E flor. E noite.
Doravante dizendo orquídea negra
é logo o violoncelo nomeado;
E logo, logo, os instrumentos de arco
Arremessando vão a flecha ao alvo;
E é logo o alvo peito!
E é logo o amor,
E é logo a noite
Murmurando "Até logo!" à outra noite...
 
De corpo a corpo a noite se transmite.
Orquestra, sim: orquestra. E flor. E vaga.
 
E a noite é sempre o corpo anoitecido,
E o corpo é sempre a noite que se aguarda.
 
De corpo a corpo o som se repercute,
de vale em vale,
   de monte em monte,
de címbalo, de cítara, et coetera,
ao tímpano sensível que o recebe.
 
Sem concha do ouvido,
   o mar não tem rumor.
sem asa do nariz,
   não voa a maresia.
 
E o mundo só é mundo enquanto houver o corpo,
de música e de flor universal medida.
Orchestre, fleur et corps :
  dès lors je dirai
Comment du corps s'extrait la musique,
Comme sans corps la fleur n’a pas de parfum,
Comment de corps en corps le son se répercute.

Orchestre, oui : orchestre. Et fleur. Et nuit.
Dès lors comme on dit orchidée noire
aussitôt le violoncelle est nommé ;
Et puis, et puis, les archets des instruments
arment leur flèche en direction de la cible ;
Et bientôt c’est le cœur la cible !
Et c’est bientôt l’amour,
Et c’est bientôt la nuit
la nuit dernière murmurant "À bientôt" ...

De corps en corps, la nuit se transmet.
Orchestre, oui : orchestre. Et fleur. Et vague.

Et la nuit est toujours le corps à la nuit tombée,
Et le corps est toujours la nuit qui nous attend.

De corps en corps le son se répercute,
de val en val,
  par monts et par vaux,
de cymbale, de cithare, et cœtera,
jusqu'au tympan sensible qui le reçoit.

Sans le pavillon de l’oreille,
  il n'est pas de rumeur marine,
sans l'aile du nez,
  Il n’est pas d'air marin.

Et le monde n’est monde que si le corps existe,
de musique et de fleur mesure universelle.
________________

Tranquillo Cremona
Mélodie (1874-1878)
...

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire

Nuage des auteurs (et quelques oeuvres)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant'Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (38) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (106) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (43) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (40) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (39) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (435) Pássaro de vidro (52) Poemas Sociais (30) Poèmes inédits (252) Reinaldo Ferreira (22) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)