Epitáfio para um poeta


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Epitáfio para um poeta
Épitaphe pour un poète


As asas não lhe cabem no caixão!
A farpela de luto não condiz
Com seu ar grave, mas, enfim, feliz;
A gravata e o calçado também não.

Ponham-no fora e dispam-lhe a farpela!
Descalcem-lhe os sapatos de verniz!
Nao vêem que ele, nu, faz mais figura,
Como uma pedra, ou uma estrela?

Pois atirem-no assim à terra dura,
Ser-lhe-á conforto:
Deixem-no respirar ao menos morto!
Ses ailes n'entrent pas dans son cercueil !
À son air grave, ses habits de deuil
Ne conviennent pas, ni ses chaussures
Ni sa cravate, mais enfin, il est heureux ;

Sortez-le de là et ôtez-lui son habit !
Enlevez-lui ses souliers vernis !
Ne le voyez-vous pas, nu, il fait meilleure figure,
Est-il comme une pierre ou une étoile ?

Déposez-le alors sur la terre, elle est dure,
Mais il sera plus confortable.
Laissez-le là, qu'il respire au moins la mort !
________________

Pacino di Bonaguida
Jardin (1335)
...

Visão Heraclitiana



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Visão Heraclitiana
Vision Héraclitéenne


Corola profanando a noite,
A lua.
Se olhares para cima,
Ela pinga-te nos olhos
E, cada vez que olhares,
É outra a lua que pinga.
Corolle profanant la nuit,
La lune.
Si tu regardes vers le ciel,
Elle s'écoule dans tes yeux
Et, chaque fois que tu regarderas,
Une autre lune va s'écouler.
________________

René Magritte
Architecture au clair de lune (1954)
...

Epitáfio para uma velha donzela


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Epitáfio para uma velha donzela
Épitaphe pour une vieille fille


De palmito e capela,
Qual manda a tradição,
Erecta, lá vai ela
Ser atirada ao chão.
De rosário na mão,
Lutou heroicamente
Contra a vil tentação
Do que nos pede a carne e a alma come.
Secreta, ansiosa, augusta, descontente
Dentro da sua túnica inconsútil,
Engelhou toda à fome,
Por fim morreu à sede,
No seu heroísmo fútil.
Bichos! penetrai vós no pobre corpo inútil!
Palmes et chapelle,
Comme le veut la tradition,
Elle, si droite,
La voilà jetée au sol.
Son rosaire à la main,
Elle s'est battue, héroïque,
Contre cette vile tentation
réclamée par la chair et qui ronge notre âme.
Secrète, anxieuse, solennelle, insatisfaite
Dans sa tunique raidie, toute entière
À sa faim, elle s'est recroquevillée,
Et pour finir, elle est morte de soif
Saisie par son héroïsme futile.
Vermines ! Pénétrez ce pauvre corps inutile !
________________

Marianne Hendriks
Musa acuminata - bananier (2023)
...

Canção de primavera


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Canção de primavera
Chanson de printemps


Eu, dar flor, já não dou. Mas vós, ó flores,
Pois que Maio chegou,
Revesti-o de clâmides de cores!
Que eu, dar, flor, já não dou.

Eu, cantar, já não canto. Mas vós, aves,
Acordai desse azul, calado há tanto,
As infinitas naves!
Que eu, cantar, já não canto.

Eu, invernos e outonos recalcados
Regelaram meu ser neste arrepio...
Aquece tu, ó sol, jardins e prados!
Que eu, é de mim o frio.

Eu, Maio, já não tenho. Mas tu, Maio,
Vem com tua paixão,
Prostrar a terra em cálido desmaio!
Que eu, ter Maio, já não.

Que eu, dar flor, já não dou; cantar, não canto;
Ter sol, não tenho; e amar...
Mas, se não amo,
Como é que, Maio em flor, te chamo tanto,
E não por mim assim te chamo?
Moi, offrir des fleurs, jamais plus. Mais vous, ô fleurs,
Puisque voici le mois de mai
Couvrez-le de chlamydes colorées !
De ces fleurs que moi, je n'offre plus.

Moi, chanter, jamais plus. Mais vous, oiseaux,
Réveillez de ce bleu, qui tait depuis longtemps,
Les infinis vaisseaux !
Moi qui, ayant chanté, ne chante plus.

Hivers et automnes, en moi refoulés
ont glacé mon être d'un frisson...
Tu réchauffes, ô toi soleil, jardins et prairies !
Lorsque le froid est en moi tout entier.

Le mai en moi n'est plus. Mais toi, mai,
Reviens avec ta passion,
Accabler la terre d'un brûlant émoi !
Car mai en moi n'est plus,

Et je n'offre plus de fleurs ; je ne chante plus
Il n'y a plus en moi de soleil ; et l'amour...
Mais si je n'aime plus,
Lorsque mai est en fleurs, pourquoi t'appellerais-je,
Et non pour moi, ainsi, te nommerais-je ?
________________

Maria Helena Vieira da Silva
Le jardin de Lucie (1971)
...

Geografia humana


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A Chaga do Lado (1954) »»
 
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Geografia humana
Géographie humaine


Todo peludo e tosco, exemplar digno de se ver,
− O belo monstro! − ei-lo exposto
Ao gáudio e pasmo de quemquer
Que tenha gosto.

Os pais vêm mostrá-lo aos filhos inocentes;
E as criancinhas olham, assombradas,
Seus braços guedelhudos e pendentes,
Suas pernas truncadas e cambadas.

Mal sabem, pobres pequenos!,
Se hão-de chorar ou rir, quando, por trás da grade,
Ele faz gestos obscenos
A selecta sociedade.

Tranquila, porque a jaula é modelar,
Toda a plateia exulta e aplaude, ufana
De impunemente desafiar
O monstro cuja forma é quase humana.

E todos riem-se, gingão e calaceiro,
Cansado, já, talvez, dos seus admiradores,
Exibe o calo do traseiro
Às damas e aos senhores.

Espicaçam-no, então, para que tão depressa
Não se esgote a gratuita diversão,
E o vejam, como é da peça,
Rebolar-se e pinchar de excitação.

Rebola-se, afocinha, e pincha, guincha, dança,
Com expressões de velho
E jeitos de criança
Que são um bom espelho!

Ou, rilhando o focinho monstruoso,
Desesperado, investe contra as grades,
Furiosamente saudoso
De longínquas liberdades...

E as pupilas a arder, como luzinhas pretas,
De entre pêlos, na testa acachapada,
Saltam, vão dum a outro, interrogando, inquietas,
Sem compreenderem que ninguém compreenda nada!

Ninguém?... Não sei. A poesia é filha
De perturbantes sugestões,
E um mísero macaco, um nem talvez gorilha,
Pode dar a um poeta imagens e visões.

Porque, naquela turba, há um doido... um poeta moço
Que sonha... sonha o quê? Que o hão-de expor, um dia,
Remido, esse grotesco e mísero colosso
− Rei dos Judeus, rei nosso −
Com, por manto real, um trapo púrpura ao pescoço,
E uma cana, por ceptro, na mão fria.
Tout poilu et raboteux, un exemplaire digne d'être vu,
− Quel beau monstre ! − Ici, exposé
À la jubilation et à l'ébahissement de quiconque
Vient l'apprécier

Les parents le montrent à leurs enfants innocents ;
Et les petits enfants regardent, effrayés,
Ses bras velus et pendants,
Ses jambes tronquées et tortues.

Ils ne savent pas, les pauvres petits,
S'il faut rire ou pleurer, quand, derrière les barreaux,
Il fait des gestes obscènes
À l'honnête bourgeois.

Pas d'inquiétude, la cage est conforme,
Tout le parterre applaudit et acclame, fier
De pouvoir défier impunément
Ce monstre à forme presque humaine.

Et tous se moque de lui, se dandinant, paresseux
et qui déjà fatigué peut-être de ses admirateurs,
Exhibe les callosités de son derrière
Aux dames et aux messieurs.

Aussi ils le harcèlent afin que ne s'épuise pas
trop vite ce divertissement gratuit,
et ils le voient, comme au spectacle,
Se rouler et trépigner d'excitation.

Il se roule à terre, trépigne, piaille et danse,
avec les expressions d'un vieil homme
Et des gestes d'enfants
Qui sont une belle imitation !

Ou, retroussant son museau monstrueux,
Désespéré, il se jette contre les barreaux,
Furieux et nostalgiques
Des anciennes libertés perdues...

Et ses pupilles brûlantes, petites lumières noires,
Au milieu de sa fourrure, sur son front bas,
Roulent, vont de l'un à l'autre, interrogeant, inquiets,
Sans jamais comprendre que personne ne comprend !

Personne ?... Je ne sais pas. La poésie est fille
De troublantes suggestions,
Et un misérable singe, pas même un gorille,
Peut donner à un poète images et visions.

Car, au milieu de cette foule, il y a un fou... un jeune poète
Qui rêve... qui rêve de quoi ? Qu'ils l'exposeront, un jour,
Une fois libre, ce grotesque et misérable colosse
– Roi des Juifs, notre roi –
Avec un chiffon pourpre au cou en guise de manteau royal,
Et, un roseau, pour sceptre, dans sa main froide.
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Michelangelo Pistoletto
Singe en cage (1962-1973)
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Páscoa


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Páscoa
Pâques


Há quanto, há quanto já que os versos me não vinham!
Ausente, seco, nulo, é que eu, feliz, andava.
E as asas que outro tempo ao alto me sustinham,
Meu sentir-me assim bem mas depenava.

Vivendo como quem lhe sabe bem dormir
Sabendo que lá fora há chuva e ventania,
Quase esquecido, já, de ter de me cumprir,
Oco de tudo é que eu, feliz, vivia.

Tão oco de ilusões como dos desesperos
Sem os quais nada, em nós, nos força ir mais além,
Há quanto, há quanto já meus altos fados feros
Me davam tréguas!, e eu vivia bem.

E os versos não me vindo, eu não fazia versos,
Pois versos para quê?, se eu era, enfim, feliz,
Só corrigindo, atento, os que aí há dispersos
Comemorando infernos em que os fiz!

Hoje, porém, peguei num lápis, num papel,
Sobre o meu ombro, Alguém, pesando, se inclinou,
E, sob o seu ditado, a pena tinta em fel,
O meu mal no papel se derramou...

Alastra, sangue meu!, que és Espírito, e excedes
Os exíguos canais das minhas curtas veias,
E a quem com sede vem molhar os lábios, pedes
Aspirações, paixões, sonhos, ideias...

Que cego, cego andava!, e louco!, e surdo-mudo!,
Enquanto me arrastei, julgando ser viver
Esse fechar o olhar cansado sobre tudo,
Sem, sobre tudo, te sentir correr!

Bem hajas, pois, quem quer que me feriste fundo
Quando já me eu julgava a salvo em chão seguro,
E me atiraste, assim, de novo para o mundo
Em que entro imundo, e me levanto puro!
Depuis longtemps, si longtemps, je n'écris plus de vers !
Absent, aride et nul, c'est ainsi que je vais, heureux
Et les ailes qui autrefois me soutenaient là-haut,
De me bien sentir ici, ne me portent plus, me font défaut.

De vivre en étant conscient de bien dormir
Sachant que dehors, il n'y a que pluies et vents,
Ayant presque oublié de devoir m'accomplir,
Vidé de tout ce que je suis, je vivais heureux.

Délivré du désespoir et de toutes les illusions
Sans lesquelles rien ne nous force d'aller plus loin,
Depuis longtemps, si longtemps, hautes et farouches
Mes étoiles me donnaient du répit ! Je vivais heureux.

Aucun vers ne me venait, je n'écrivais aucun vers,
Des vers, mais à quoi bon ? si j'étais, enfin, heureux,
Ne corrigeant, attentif, que ceux que j'avais dispersés
En célébrant l'enfer que j'avais dû traverser pour les écrire.

Aujourd'hui, cependant, j'ai pris un crayon, un papier,
Sur mon épaule, Quelqu'un s'appuie, se penche
Et, sous sa dictée, ma plume encrée de bile
A répandu sur le papier mon mal avec aigreur.

Répands-toi, Esprit de mon sang ! et dépasse
Les canaux exiguës de mes courtes veines,
Et à ceux, assoiffés qui viennent mouillés leurs lèvres,
Réclament inspirations, passions, rêves, idées...

Aveugle, aveugle j'étais ! Et fou ! Et sourd-muet !
Alors je me laissais entraîner, pensant que pour vivre
Il suffisait de fermer les yeux, fatigué de tout,
Et ne jamais, surtout, se laisser affecter !

Qui que tu sois, merci de m'avoir si profondément
Blessé, moi qui me croyais en sécurité sur cette terre
Et de m'avoir ainsi jeté de nouveau dans le monde
En lequel j'étais entré, sali, et me relève, purifié.
________________

S.K. Sahni
Espace - G (2011)
...

Canção


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Canção
Chanson


Sobe, canção, do fundo da amargura
Que me nivela ao que me amarga! Voa,
E acima, além da minha vil tristura,
Se eu não perdoo, tu, perdoa!

Se eu não perdoo, porque sou da argila
Que por tão frágil quão pesada ataco,
Perdoa tu que aérea vais, tranquila,
Bailando sobre todo o opaco.

Canta a heróica renúncia de viver
Como quem morre a par e passo..., e vive
Por, antes de morrer, ter de vencer
A morte-em-vida que o cative.

Que importa que ninguém te sonde os ritmos,
Nem saiba ler, cantor, as tuas actas
E os teus jogos de sons e logaritmos
Fixos em tábuas inda intactas?

Voa, canção, na solidão enorme
De ser maior do que o seu próprio ser
E velar quando tudo, em volta, dorme,
− Único a não adormecer!

A ti, cantor, não te foi dado o sono
Que entre plumas, colchões e cobertores
Todos os mais afunda em abandono:
A ti, suor, suor, suores...

Que o dormir é daqueles que te amaram
Demasiado humano, os vis amigos!,
E quando o vento e o céu te solevaram,
Se te volveram inimigos.

Sobe, canção, sempre mais alto! mais
Que a exígua voz humana que te entoa.
Sobe, estrangula os seus soluços e ais,
Que a vida é bela! a morte é boa!

Que a vida é bela quando a tu levantas
No desfraldar das asas infinitas,
E boa a morte quando tu a cantas,
E sobre nós, voando, a agitas!

Voa, canção! E tu, finda a contenda,
Cantor dos pés de barro e olhar de lume,
Pede ao teu Val de Lágrimas que fenda,
E te aproveite como estrume.
Monte des profondeurs de l'amertume,
Chanson qui me réduit à mon malheur ! Vole,
Et de là-haut, loin de ma pauvre tristesse,
Qui jamais ne pardonne, toi, pardonne !

Si je ne sais pardonner, moi étant fait d'une
Argile qui tant me pèse bien que fragile,
Et m'accable, pardonne, aérienne, toi
Qui va tranquille tombant sur tout l'opaque.

Chante héroïque renoncement de vivre
Comme est à l'écart celui qui meurt
Et passe... et vit avant que de mourir
De cette mort-en-vie qui te captive.

Qu'importe si personne ne sonde tes rythmes,
Ni ne sait lire, chanteur, tes gestes
Et le jeu de tes sons et de tes logarithmes
Fixés sur des tablettes encore intactes ?

Vole dans la solitude immense, chanson,
D'avoir été plus grande de tout ton être
Et veillant alentour, quand tout dort,
— Toi, seule ne dormant pas !

À toi, chanteur, n'a pas été donné ce sommeil
Qui toujours, entre plumes, matelas et couvertures
Nous fait nous enfoncer dans l'abandon.
À toi, les sueurs, et sang et sueur...

Qu'il appartienne à ceux qui t'ont aimé,
Le dormir trop humain, à tes pauvres amis !
Car, lorsque le vent et le ciel te soulevèrent,
Ennemis, contre toi, ils se sont retournés.

Toujours plus haut, monte chanson ! plus
Haut que la faible voix humaine qui te chante.
Monte, étranglée de sanglots, mais hélas,
Que la vie est belle, et que la mort est bonne !

Que la vie est belle quand tu t'élèves
En un déploiement d'ailes, infini,
Et bonne la mort quand tu la chantes,
Et au-dessus de nous, volant, tu la bouscules !

Vole, chanson ! Et toi, achevant le combat,
Chanteur aux pieds d'argile, au regard de feu,
Demande à ta Vallée de Larmes de s'ouvrir
Et de faire son profit de toi comme engrais.
________________

Tony Feher
Midi (2012)
...

Fado Português


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Fado Português
Fado portugais


O Fado nasceu um dia,
quando o vento mal bulia
e o céu o mar prolongava,
na amurada dum veleiro,
no peito dum marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.

Ai, que lindeza tamanha,
meu chão , meu monte, meu vale,
de folhas, flores, frutas de oiro,
vê se vês terras de Espanha,
areias de Portugal,
olhar ceguinho de choro.

Na boca dum marinheiro
do frágil barco veleiro,
morrendo a canção magoada,
diz o pungir dos desejos
do lábio a queimar de beijos
que beija o ar, e mais nada,
que beija o ar, e mais nada.

Mãe, adeus. Adeus, Maria.
Guarda bem no teu sentido
que aqui te faço uma jura:
que ou te levo à sacristia,
ou foi Deus que foi servido
dar-me no mar sepultura.

Ora eis que embora outro dia,
quando o vento nem bulia
e o céu o mar prolongava,
à proa de outro velero
velava outro marinheiro
que, estando triste, cantava,
que, estando triste, cantava.
Le fado est né un jour,
quand le vent soufflait à peine
et que le ciel prolongeait la mer,
sur le bastingage d’un voilier,
dans la poitrine d’un marin
qui, était triste, et chantait,
qui, était triste, et chantait.

Ah, qu'ils sont beaux, mon pays,
ma montagne, ma vallée, couverte
de feuilles, de fleurs, de fruits d’or,
vois si tu le peux les terres d’Espagne,
et les sables du Portugal,
d'un regard aveuglé par les larmes.

Dans la bouche d’un marin
du fragile bateau à voiles,
se meurt la chanson blessée
qui dit le picotement des désirs
d'une lèvre brûlante de baisers,
embrassant l'air, et rien d'autre,
embrassant l'air, et rien d'autre,

Mère, adieu. Adieu, Maria.
Garde bien dans ton cœur
ce que je dis, je le jure :
soit je t’emmène à la sacristie,
soit c’est Dieu qui sera servi
et j'aurai la mer pour sépulture.

Aujourd'hui est un autre jour,
quand le vent soufflait à peine
et que le ciel prolongeait la mer,
à la proue d’un autre voilier
se trouvait un autre marin
qui, était triste, et chantait,
qui, était triste, et chantait.
________________

Massimo Campigli
Les épouses des marins (1934)
...

Fado-Canção


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Fado-Canção
Chanson-Fado


Medito o meu fado estranho:
Canto, e sei lá por que canto?
Canto, porque nada tenho
Melhor que o dom de cantar...
E canto, por me animar
Contra o silêncio, o vazio
Da minha vida frustrada
E o frio
Que anda em meu ser,
− Como quem, noite fechada,
Passando na encruzilhada,
Por escorraçar o medo
Levanta a voz a tremer...

Ao fundo da melodia
Que até parece que fala,
− A trágica estátua cala.
Mas doce é o ritmo que embala,
Doce a rima que alicia...
E eu canto, pois me alivia
Ouvir-me a mim próprio, embora
A estátua como em granito
Seus olhos só longe fite,
E erga um dedo,
Que demora,
À boca absorta no grito
Que não permite
Que grite...

E eu canto, porque desisto
De que o meu canto me exprima!
Quem me ouvira mais do que isto,
− Jogos de ritmo e rima...?
Sei que lá em baixo,
Lá em cima,
Sofro só, pairo calado.
Mas canto, para deixar
Um eco vibrar no ar
Do fútil som de embalar
Que o mundo que dorme estima...

Ai, coisas que raros sabem,
Mas que eu sei...,
Profundamente!
Os próprios raros que as sabem,
É como quem as não sente.
E eu canto-as, e é evidente
Que ninguém as reconhece
No tom que lhes dou, alheio.
Não consigo estar no meio
Nem mesmo quando parece
Que, fugido ao meu recanto,
Me achei entre a minha gente...
Por demais sei isto, sei-o!,
Muito mais do que isto..., − e canto.

Sim, canto,
Que é o meu destino,
Mas como grita um menino
Que se agarrara à sacada
Duma casa incendiada
Em que ficara esquecido...
A praça, em baixo, é deserta,
O céu, lá em cima, escondido,
A noite longa encoberta,
A sacada a grande altura,
As escadas cinza e pó,
O frágil solho a ruir,
− E o grito de angustia, só
Feriu eco a tal lonjura
Que ninguém vem acudir!

E eu sei que não vem
Ninguém,
À solidão de que morro,
Prestar a mão de socorro,
Trocar o olhar de ternura
Que me salvara do espanto.
Mas, quanto melhor o sei,
Mais creio, melhor crerei
Nesse eco a essa lonjura...,

E mais e melhor eu canto!
Je médite sur mon étrange destin :
Je chante et ne sais pas pourquoi ?
Je chante, parce que je n'ai rien
De mieux que ce don de chanter...
Et je chante, pour me raffermir
Contre le silence, le vide
De ma vie frustrée
Et le froid
Qui est dans mon être,
− Pareil à quelqu'un, qui la nuit
Tombée, traverse le carrefour,
Et pour chasser sa peur,
Élève la voix jusqu'à trembler...

Au fond de la mélodie
Qui semble être une parole,
− La tragique statue se tait.
Mais doux est le rythme qui berce,
Doux est la rime qui séduit...
Et je chante, car je me guéris
D'entendre ma propre voix, même si
La statue, comme le granit,
Regarde fixement au loin,
Et lève un doigt,
Qu'elle met devant
Sa bouche, absorbée par le cri
Qui ne tolère pas
Que je crie...

Et je chante, car je ne veux pas
Renoncer à ce que mon chant m'exprime !
Sinon qui voudrait m'écouter,
− Jeux de rythme et de rimes... ?
Je sais que là, en-bas,
Là, en-haut,
Dans le tirant d'air, je souffre seul,
Mais je chante, afin de laisser
Vibrer un écho dans l'air
De ce futile balancement
Que chérit le monde endormi...

Ah, choses que peu connaissent,
Mais que je sais...,
Profondément!
Les très rares qui les savent
Ne semblent pas les éprouver.
Et je les chante, et il est clair
Que personne ne les reconnaît
Par le ton que je leur donne, étranger.
Je ne peux pas rester parmi eux,
Même lorsqu'il peut sembler
Que, fuyant de mon refuge,
Je me retrouve parmi les miens...
Je le sais trop, je le sais bien !,
Je le sais d'autant plus..., − et je chante.

Oui, je chante,
C'est là mon destin,
Mais comme crierait un enfant
Agrippé au balcon
D'une maison incendiée
Dans laquelle on l'aurait oublié...
La place en bas est déserte,
Le ciel au-dessus se dissimule,
La nuit est couverte pour longtemps,
Le balcon est très haut perché,
Les escaliers sont gris et poussiéreux,
Le toit fragile en ruines,
− Et ce cri d'angoisse, seul écho
D'une blessure, arrive de tels confins
Que personne ne vient en aide !

Et je le sais, il ne viendra
Personne,
Dans la solitude où je meurs,
Pour me donner un coup de main,
Et échanger ce regard de tendresse
qui me sauverait de l'épouvante.
Mais, d'autant mieux que je le sais,
Et plus je crois, non, plus je croirai
À cet écho venu de tels confins...,

Et plus, et mieux, je chanterai !
________________

Robert Delaunay
Drame politique (1914)
...

Saga do poeta abandonado



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Saga do poeta abandonado
Saga du poète abandonné


Meus sete irmãos partiram,
Cada um por cada dia.
Cada um por cada sol,
À descoberta da terra.

Só eu fiquei abandonado,
A chorar de poesia,
Poesia a cada dia,
Poesia a cada sol.
Mes sept frères sont partis,
Un pour chaque jour.
Un pour chaque soleil,
À la découverte de la terre.

Je reste seul, abandonné,
À pleurer de poésie,
Poésie de chaque jour,
Poésie à chaque soleil.
________________

Marc Chagall
Autoportrait aux sept doigts (1911-1912)
...

A poesia vai acabar


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Autre traduction :
Manuel António Pina »»
 
Ainda não é o fim nem o princípio do mundo... (1974) »»
 
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A poesia vai acabar
La poésie va finir


A poesia vai acabar, os poetas
vão ser colocados em lugares mais úteis.
Por exemplo, observadores de pássaros
(enquanto os pássaros não
acabarem). Esta certeza tive-a hoje ao
entrar numa repartição pública.
Um senhor míope atendia devagar
ao balcão; eu perguntei: «Que fez algum
poeta por este senhor?»  E a pergunta
afligiu-me tanto por dentro e por
fora da cabeça que tive que voltar a ler
toda a poesia desde o princípio do mundo.
Uma pergunta numa cabeça.
— Como uma coroa de espinhos:
estão todos a ver onde o autor quer chegar? —

La poésie va finir un jour, les poètes
seront déplacés en des lieux plus utiles.
Par exemple, pour observer les oiseaux
(à condition qu'on n'en finisse pas aussi
avec les oiseaux). J’en ai eu ce jour la certitude
comme j'entrais dans un lieu publique.
Myope, avec lenteur, un homme servait
au comptoir ; je m'interrogeais : « Que pourrait
faire un poète pour cet homme ? » Et la question
m'a tellement affligé à l'intérieur et à l'
extérieur de ma tête que j'ai dû m'en retourner
lire toute la poésie depuis le début du monde.
Une question dans une tête.
— Comme une couronne d’épines :
tout un chacun voit-il où l’auteur veut en venir ? —

________________

Richard Moult
Au coeur du bois (2022)
...

Fado Alentejano


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Fado Alentejano
Fado Alentejan


Alentejo, ai solidão,
Solidão, ai Alentejo,
Pátria que à força escolhi!
Quando cheguei, quis-te mal,
Alentejo-ai-solidão...
Julguei eu que te quis mal.
Chegava do vendaval,
Tão cego que te nem vi!

Alentejo, ai solidão,
Solidão, ai Alentejo,
Adro da melancolia!
Tua tristeza me pesa,
Alentejo-ai-solidão...
Quanto, às vezes, me não, pesa!
Mas fora de essa tristeza,
Pesa-me toda a alegria.

Alentejo, ai solidão,
Solidão, ai Alentejo,
Meu Norte-Sul-Este-Oeste!
Voltei ferido da guerra,
Alentejo-ai-solidão...
Faminto voltei da guerra!
Mendiguei de terra em terra,
Esmola, só tu ma deste.

Alentejo, ai solidão.
Solidão, ai Alentejo,
Oceano de ondas de oiro!
Tinha um tesoiro perdido,
Alentejo-ai-solidão...
Que eu já dera por perdido!
Nos teus ermos escondido
Vim achar o meu tesoiro.

Alentejo, ai solidão,
Solidão, ai Alentejo,
Convento do céu aberto!
Nos teus claustros me fiz monge,
Alentejo-ai-solidão...
Em ti por ti me fiz monge.
Perdeu-se-me a terra ao longe,
Chegou-se-me o céu mais perto.

Alentejo, ai solidão,
Solidão, ai Alentejo,
Padre-nosso de infelizes!
Vim coberto de cadeias,
Alentejo-ai-solidão...
Coberto de vis cadeias!
Mas estas com que me enleias,
Deram-me asas e raízes.
Alentejo, ô solitude,
Solitude, ô Alentejo,
Patrie choisie par force !
À mon arrivée, je te voulais du mal,
Alentejo-ah-solitude...
Je pensais te vouloir du mal.
J'arrivais pris dans la tempête,
Aveuglé, sans même te voir !

Alentejo, ô solitude,
Solitude, ô Alentejo,
Parvis mélancolique !
Ta tristesse me pèse,
Alentejo-ah-solitude...
Qui parfois, me pèse, sans me peser !
Mais hors de cette tristesse,
Me pèsent toutes les joies.

Alentejo, ô solitude,
Solitude, ô Alentejo,
Mon Nord-Sud-Est-Ouest !
Revenu, blessé de guerre,
Alentejo-ah-solitude...
Affamé, revenu de guerre !
J'ai mendié de terre en terre
Une aumône. Toi seul, me l'as donnée.

Alentejo, ô solitude.
Solitude, ô Alentejo,
Océan aux vagues dorées !
J'avais perdu un trésor,
Alentejo-ah-solitude...
Je croyais t'avoir perdu !
Mais dans ton désert caché
Je reviens chercher mon trésor.

Alentejo, ô solitude,
Solitude, ô Alentejo,
Couvent à ciel ouvert !
Dans tes cloîtres je me fais moine,
Alentejo-ah-solitude...
En toi, pour toi, je me fais moine.
Pour moi, la terre s'est perdue au loin,
Pour moi, le ciel s'est rapproché.

Alentejo, ô solitude,
Solitude, ô Alentejo,
Notre Père des malheureux !
Je suis venu couvert de chaînes,
Alentejo-ah-solitude...
Couvert d'infâmes chaînes !
Mais avec elles, tu m'entoures, tu me lies
Et me donnes, ailes et racines.
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Dordio Gomes
Paysage alentejan (1946)
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O jongleur de estrelas e o seu jogo


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José Régio »»
 
As Encruzilhadas de Deus (1935) »»
 
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O jongleur de estrelas e o seu jogo
Le jongleur des étoiles et son jeu


O jongleur de estrelas tem os pés de barro,
Tem as mãos de cinza...

Sobre os pés de barro salta no infinito,
Com as mãos de cinza movimenta os astros.

O jongleur de estrelas tem os olhos fixos,
Mas em todo o corpo nervos dinamistas.

Seus nervos dispersos dão um acorde único...
Não! seus olhos fixos é que olham mil pistas.

O jongleur de estrelas é mentira!: mente
Na retina fosca dos que julgam vê-lo.

O jongleur de estrelas não se vê de fora,
Por ser de mais belo!

Ora um dia, o dedo do Senhor, clemente,
Tocar-lhe-á, misericordiosamente.

E o jongleur de estrelas há-de desfazer-se
Sobre os pés de barro, sobre as mãos de cinza...

Do jongleur de estrelas restam as estrelas,
E outros brincarão com elas!
Le jongleur des étoiles a des pieds d'argile,
A des mains de cendre...

Sur ses pieds d'argile il saute vers l'infini,
Avec ses mains de cendre il fait bouger les astres.

Le jongleur des étoiles a les yeux fixes,
Mais le dynamisme des nerfs en tout son corps.

Ses nerfs épars lui donnent un accord unique...
Non ! Ce sont ses yeux fixes qui suivent mille pistes.

Le jongleur des étoiles est un menteur ! il ment
dans la rétine dépoli de ceux qui croient le voir.

Le jongleur des étoiles ne s'observent pas
Dans le miroir pour être plus beau !

Un jour cependant le doigt du Seigneur, clément,
Le toucha, avec miséricorde.

Et le jongleur des étoiles dut se défaire
De ses pieds d'argile, de ses mains de cendre.

Du jongleur des étoiles ne restèrent que les étoiles,
Et d'autres se mirent à jouer avec elles.
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Marc Chagall
Le jongleur (1943)
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Jogo de Espelhos


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Jogo de Espelhos
Jeu de miroirs


Entro... seja onde for. Começo a disfarçar,
A fingir que estou bem, muito à vontade.
Mas a verdade é que não sei como hei-de estar,
Nem sei não deixar ver que esta é que é a verdade!

Suspeitando-me todos de possesso,
No olhar de toda a gente encontro o mesmo grito: −
 «Fora!»
Correcto, sério, frio, amàvelmente me despeço,
A fingir que não fui mandado embora...

Fora, o lamento do vento
Embala-me, embebeda-me, adormenta-me.
Sinto-me bem!, que bem!, todo embrulhado em
 sofrimento...
E o halo do martírio tenta-me.

Que bom que é ficar só, posto de lado
Subir a longa queda até ao fim,
Chegar exausto, incompreendido, caluniado...!
E desato em soluços sobre mim.

Choro. Choro na noite longa e lôbrega, transido
Como um menino ruim atrás da porta. Mas comigo,
Consolo-me em sentir-me incompreendido,
Porque o menino ruim não merecia tal castigo...

Assim a esta paródia do meu mal
Se ajunta a minha megalomania:
Julgo-me Cristo numa cruz, Camões num hospital,
E o supremo dandismo da desonra me inebria.

De dândi, volto, pois, aos clubes e aos salões.
Visto a minha grandeza ante o furor deles e delas.
Sofro, superiormente, obscenidades e empurrões.
Sento-me, triste até à morte, a olhar os vidros das
 janelas...

Ora no espelho em frente, uma caricatura,
Um rosto cego, mudo, escanhoado, empoado,
Garante-me que sou aquela compostura,
Esse sepulcro caiado...

Por que não torno para a rua?
Enjoam-me os cristais, as luzes, os decotes.
Que bom que deve ser passear lá fora, sob a lua,
Sereníssimamente, a colher miosótis!

Porém na rua, há uma taberna; há um bordel; há
 escuro;
Há fêmeas; ópios; vinho; há desespero; há gosto...

− É então que tu vens, tu, Mestre que eu procuro!,
É então que tu vens...!
    E cospes-me no rosto.
J'entre... et où que ce soit, il me faut dissimuler,
Faire semblant d'aller bien, très à mon aise.
Mais en vérité je ne sais pas comment je devrais être,
Ni même comment il faudrait que je sois pour être vrai !

Tous me considèrent comme un énergumène,
Dans les yeux de tous, on retrouve le même cri : −
 « Dehors ! »
Correct, sérieux, froid, gentiment je prends congé,
Faisant mine de n'avoir pas encore été chassé...

Dehors, la complainte du vent
Me berce, m'étourdit, m'endort.
Je me sens bien, tellement bien !, emmitouflé dans la
 souffrance...
Et le halo du martyre me tente.

Qu'il est bon d'être seul, mis de côté
Grimpant la longue pente jusqu'au bout,
Arriver épuisé, incompris, calomnié...!
Puis éclater en sanglots sur soi-même.

Je pleure. Je pleure au long de la nuit lugubre, transi
Pareil à un mauvais gosse derrière la porte. Mais
En moi-même, je me console me sentant incompris,
Le mauvais garçon ne méritait pas une telle punition...

Ainsi à cette parodie de mon mal
S'ajoute ma mégalomanie :
Je m'imagine Christ sur la croix, Camões à l'hôpital,
Et le suprême dandysme du déshonneur m’enivre.

Dandy, je retourne alors aux clubs et aux salons.
Je vois ma grandeur avant la colère d'untel ou unetelle.
Je souffre, plus que tout des obscénités, des bousculades.
Je m'assois, triste à mourir, et je regarde par les vitres
 des fenêtres...

Dans le miroir maintenant devant moi, une caricature,
Un visage aveugle, muet, rasé de près, poudré,
Je m'assure que je suis bien cette composition,
Ce tombeau blanchi à la chaux...

Pourquoi ne pas retourner dans la rue ?
Me dégoûtent les cristaux, les lumières, les décolletés.
Qu'il doit être agréable de marcher dehors, sous la lune,
Et de, très sereinement, cueillir des myosotis !

Mais dans la rue, il y a une taverne ; il y a un bordel ; et
 l'obscurité ;
Il y a les femmes ; l'opium ; le vin ; le désespoir ; l'envie...

− Alors c'est toi qui arrives, toi, le Maître cherché !,
C'est alors que tu viens...!
    Et tu me craches au visage.
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Nils Von Dardel
Au bar (1920)
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