Hora


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Sophia de Mello Breyner Andresen »»
 
O Dia do Mar (1947) »»
 
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Hora
Heure


Sinto que hoje novamente embarco
Para as grandes aventuras,
Passam no ar palavras obscuras
E o meu desejo canta --- por isso marco
Nos meus sentidos a imagem desta hora.

Sonoro e profundo
Aquele mundo
Que eu sonhara e perdera
Espera
O peso dos meus gestos.

E dormem mil gestos nos meus dedos.

Desligadas dos círculos funestos
Das mentiras alheias,
Finalmente solitárias,
As minhas mãos estão cheias
De expectativa e de segredos
Como os negros arvoredos
Que baloiçam na noite murmurando.

Ao longe por mim oiço chamando
A voz das coisas que eu sei amar.

E de novo caminho para o mar.

Je sens qu'aujourd'hui je vais m'embarquer
de nouveau pour de grandes aventures,
Dans les airs passent des mots obscurs
Et mon désir chante --- aussi dans mes sens
Vient s'imprimer l'image de cette heure.

Il est sonore et profond
Ce monde
Que j'avais rêvé et perdu
Il attend
Le poids de mes gestes.

Et mille gestes dorment entre mes doigts.

Découplés des cercles funestes
Du mensonge des autres,
Finalement solitaire,
Mes mains sont pleines
D'expectatives et de secrets
Bosquets noirs qui la nuit
Se balancent et murmurent.

Au loin j'entends la voix des choses,
Je le sais je l'aime, et qui m'appelle.

Et je reprends le chemin de la mer.

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Auguste Rodin
La Cathédrale (1908)

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