O mar


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Sophia de Mello Breyner Andresen »»
 
Mar (2001) »»
 
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O mar
La mer


Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida.

E se vou dizendo aos astros o meu mal
É porque também tu revoltado e teatral
Fazes soar a tua dor pelas alturas.
E se antes de tudo odeio e fujo
O que é impuro, profano e sujo,
É só porque as tuas ondas são puras

Mer, le milieu de mon âme est fait d’un air marin
Puisqu’il a même inquiétude et même nostalgie
Que l’immense clameur entendue à marée haute,
N’apportant rien de bon, ne pouvant me satisfaire.
Et tes vagues dissoutes dans le sable
Qui chaque fois plus fortes se relèvent,
Chaque fois retombent sur le chemin de la vie,
Au départ d’une étourdissante et neuve illusion.

Et si je m’en vais dire aux étoiles ma douleur
C’est peut-être que toi, théâtrale et révoltée,
Tu fais résonner aussi ton mal dans les hauteurs.
Et si je déteste et fuis avant tout
Et l’impur, et le sale et le profane
C’est que tes vagues, elles seules sont pures.

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Gustave Courbet
La vague (1869)

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