D. Bailador-Bailarino - II


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Reinaldo Ferreira »»
 
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D. Bailador-Bailarino - II
D. Danseur de ballet - Ballerin - II


II
Emocionante,
A pantomina
Termina.

Alado e áptero impulso
Atrai-lhe o corpo delgado
Para o reino da vertigem,
Pondo susto e maravilha
Em cada olhar deslumbrado.

Após
Com lento aprumo, sem pressa,
Regressa,
Pisa de novo o tablado
E dança.
Com segurança e majestade dança,
Como se no ar em que dança
Houvesse mais densidade,
De um verde vagar aquático.

Quem dirá que não tem asas
D. Bailarino-Bailador?

Embalsamado - de fixo! -,
Mumificado - de quieto! -,
D. Bailarino
Comenta, do violino,
Gelado choro sem fim.

Mas no fim,
Com manso e dormente jeito,
As duas mãos voadoras
Cruza, pendentes, no peito.

Sob as pálpebras cerradas
É diferente o rosto moço;
Tomba-lhe então a cabeça,
Como se ao cabo e aos poucos
Se derretesse o pescoço.

Longínqua serenidade
Como que dimana e escorre
Da melancolia que morre,
Toda horizonte e além.
II
Émouvante,
La pantomime
S'achève.

Ailé un élan aptère
Attire son corps diaphane
Vers le royaume du vertige,
Instillant peur et merveilles
En chaque regard ébloui.

Après
Avec un lent aplomb, sans hâte,
Il revient,
Piétine à nouveau la scène
Et danse.
Avec sureté et majesté il danse,
Comme si dans l’air où il danse
Il n'y avait plus de densité,
Bleu-vert égaré dans l’eau.

Qui dira qu’il n’a pas d’ailes
D. le Ballerin-Danseur ?

Embaumé - épinglé ! -,
Momifié - si tranquille ! -,
D. le Ballerin
Commente infiniment
Les larmes glacées du violon.

Mais sur la fin,
Bonhomme aux gestes endormis,
Ses deux mains qui voltigeaient,
Suspendues, se croisent, sur son torse.

Sous ses paupières serrées
Il est différent, le beau visage :
Et sa tête tombe alors
Comme un point final, peu à peu
son cou s'enfonce dans sa gorge.

Une sérénité lointaine
S'écoule en ruisselant
De la mélancolie qui meurt,
Jusqu'au bout de l'horizon et au-delà.
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Giuseppe Cuccio
Narcisse (2020)
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