Porque eu queria dizer amor...


Nom :
 
Recueil :
Source :
 
Autre traduction :
Nuno Rocha Morais »»
 
Poèmes inédits »»
nunorochamorais.blogspot.com (février 2021) »»
 
Italien »»
«« précédent / Sommaire / suivant »»
________________


Porque eu queria dizer amor...
Car je voulais dire amour...


I

Porque eu queria dizer amor
Com a mesma palavra
De outra maneira,
Talvez porque sinta sufocação,
Afogamento em círculos,
Um dia fechado numa noite,
Incapaz de se prolongar
Na novíssima luz,
Dia asfixiando no tempo.
Porque eu queria dizer amor
Na palavra não concluída,
Mais ampla, expansão,
Ondas e ondas de choque,
Uma palavra de limites
Impensáveis para qualquer arte,
Palavra de alento e espanto,
Palavra que fosse realmente
A coisa que dissesse
Porque eu queria dizer amor
Para o criar
Numa palavra que jamais estancasse.

II

Porque o amor não fica
Nessa palavra,
Mas evola-se em pó,
Subjugado pelo vento
Que preside ao dizer.
E fica o amor prisioneiro
No redil da inaudível pulsação
Que escava a insónia
E é erosão.
O amor não fala de si,
Não pode e não se mata,
Apesar de mais e mais
Despenhado em si mesmo
Dura, sonhando, porém, a sábia sílaba
Que despolete o esquecimento
E lhe ponha fim.

I

Car je voulais dire amour
Avec le même mot
D'une autre manière,
Peut-être d'avoir senti une suffocation,
noyade en cercles,
Un jour enfermé dans une nuit,
Incapable de se prolonger
Dans la jeune lumière,
Jour s'asphyxiant dans le temps.
Car je voulais dire amour
En ce mot non conclu,
Plus ample, épanchement,
Ondes et ondes de choc,
Un mot de limites
Impensables pour aucun art,
Mot d'inspiration et d'étonnement,
Mot qui était réellement
La chose qu'il avait dite
Car je voulais dire amour
Pour le créer
En un mot qui ne s'épuise jamais.

II

Car l'amour ne reste pas
Dans ce mot,
Mais s'envole en poussière,
Subjugué par le vent
Qui préside au dire.
Et l'amour reste prisonnier
Dans le pli de l'inaudible pulsation
Qui creuse l'insomnie
Et qui est érosion.
L'amour ne parle pas de lui,
Il ne le peut, ne se tue pas,
Bien que de plus en plus
Abîmé en soi-même
Il dure, rêvant, cependant, la savante syllabe
Qui empêche l'oubli
Et y met un terme.

________________

Marc Chagall
Couple azur (1933)
...

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire

Nuage des auteurs (et quelques oeuvres)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant'Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (38) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (43) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (40) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (39) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (433) Pássaro de vidro (52) Poemas Sociais (30) Poèmes inédits (250) Reinaldo Ferreira (11) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)