Poema da morte aparente


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António Gedeão »»
 
Linhas de Força (1967) »»
 
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Poema da morte aparente
Poème de la mort apparente


Nos tempos em que acontecia o que está acontecendo agora,
e os homens pasmavam de isso ainda acontecer no
 tempo deles,
parecia-lhes a vida podre e reles
e suspiravam por viver agora.

A suspirar e a protestar morreram.
E agora, quando se abrem as covas,
encontram-se às vezes os dentes com que rangeram,
tão brancos como se as dentaduras fossem novas.
À l'époque où arrivait ce qui arrive aujourd'hui,
et l'on s'ébahissait que cela puisse arriver encore
 à cette époque,
la vie paraissait pourrie et répugnante
et on soupiraient d'avoir à vivre aujourd'hui.

À force de soupirer et protester, ils sont morts.
Et maintenant, lorsque s'ouvrent les tombes,
on retrouve parfois les dents sur lesquelles ils ont grincé,
d'une blancheur issue d'une denture toujours neuve.
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Pieter Bruegel, le Vieux
Triomphe de la mort (1562)
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