Poema do livre arbítrio


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Novos Poemas Póstumos (1990) »»
 
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Poema do livre arbítrio
Poème du libre arbitre


Há uma fatalidade, intrínsica, insofismável,
inerente a todas as coisas e nelas incrustada.
Uma fatalidade que não se pode ludribriar,
nem, peitar, nem desvirtuar,
nem entreter, nem comover,
nem iludir, nem impedir,
uma falalidade fatalmente fatal,
uma fatalidade que só poderia deixar de o ser,
para ser fatalidade de uma outra maneira qualquer,
igualmente fatal.

Eu sei que posso escolher entre o bem e o mal.
Eu sei que posso fatalmente escolher entre o bem e o mal.

E já sei que escolho o bem  entre o mal e o bem.
Já sei que escolho fatalmente o bem.
Porque escolher o bem é escolher fatalmente o bem,
como escolher o mal é escolher fatalmente o mal.
O meu livre arbítrio
conduz-me fatalmente a uma escolha fatal.
Il y a une fatalité, intrinsèque, infalsifiable,
inhérente à toutes les choses et en elles incrustée.
Une fatalité qu'on ne peut mystifier,
ni suborner, ni adultérer,
ni divertir ni émouvoir,
ni éluder ni embarrasser,
une fatalité fatalement fatal,
une fatalité qui ne pouvait que cesser d'être,
pour être fatale de toute autre manière,
tout aussi fatale.

Je sais que je peux choisir entre le bien et le mal.
Je sais que je peux fatalement choisir entre le bien et le mal.

Et je sais déjà que je choisis le bien entre le mal et le bien.
Je sais déjà que je choisis fatalement le bien.
Parce que choisir le bien, c'est choisir fatalement le bien,
comme choisir le mal, c'est fatalement choisir le mal.
mon libre arbitre
me conduit fatalement à un choix fatal.
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Annibale Carracci
Le choix d'Hercule (1596)
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