Poema da Terra Adubada


Nom:
 
Recueil:
 
Autre traduction:
António Gedeão »»
 
Linhas de Força (1967) »»
 
Italien »»
«« précédent /  Sommaire / suivant »»
________________


Poema da Terra Adubada
Poème de la terre fertilisée


Por detrás das árvores não se escondem faunos, não.
Por detrás das árvores escondem-se os soldados com
 granadas de mão.

As árvores são belas com os troncos dourados.
São boas e largas para esconder soldados.

Não é o vento que rumoreja nas folhas,
não é o vento, não.
São os corpos dos soldados rastejando no chão.

O brilho súbito não é do limbo das folhas verdes reluzentes.
É das lâminas das facas que os soldados apertam entre
 os dentes.

As rubras flores vermelhas não são papoilas, não.
É o sangue dos soldados que está vertido no chão.

Não são vespas, nem besoiros, nem pássaros a assobiar.
São os silvos das balas cortando a espessura do ar.

Depois os lavradores
rasgarão a terra com a lâmina aguda dos arados,
e a terra dará vinho e pão e flores
adubada com os corpos dos soldados.
Derrière les arbres ne se cachent pas de faunes, non.
Derrière les arbres se cachent des soldats avec des
 grenades à la main.

Les arbres sont magnifiques avec des troncs dorés.
Ils sont assez bons et larges pour cacher des soldats.

Ce n'est pas le vent qui murmure dans le feuillage,
ce n'est pas le vent, non.
Ce sont des corps de soldats rampant sur le sol.

L'éclat soudain ne vient pas du bord luisant des feuilles vertes
mais des lames des couteaux que les soldats serrent entre
 leurs dents.

Ces fleurs rouges rubis ne sont pas des coquelicots, non.
C'est le sang des soldats qui s'est répandu sur le sol.

Non des guêpes, des coléoptères, ou des oiseaux siffleurs
mais le sifflement des balles traversant l'épaisseur de l'air.

Puis les laboureurs
fendront la terre avec la lame tranchante des charrues,
et la terre donnera du vin, du pain et des fleurs
fertilisée par le corps des soldats.
________________

Otto Dix
Autoportrait avec prisonniers de guerre (1947)
...

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire

Nuage des auteurs (et quelques oeuvres)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant'Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alberto Pimenta (11) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (38) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Brasileiro (1) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (108) Casimiro de Brito (40) Cassiano Ricardo (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (48) Hilda Hilst (41) Iacyr Anderson Freitas (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (43) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (40) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (39) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (467) Pássaro de vidro (52) Pedro Mexia (40) Poemas Sociais (30) Poèmes inédits (279) Reinaldo Ferreira (40) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Knopfli (43) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)