É evidente...


Nom :
 
Recueil :
Source :
 
Autre traduction :
Nuno Rocha Morais »»
 
Poèmes inédits »»
nunorochamorais.blogspot.com (septembre 2021) »»
 
Italien »»
«« précédent / Sommaire / suivant »»
________________


É evidente...
C'est évident...


É evidente, há coisas que não se podem dizer
Para não detonar inconveniências,
Cidades em que é preciso não tropeçar,
Esconder quadros com formas proibidas
Não pelo que se vê, mas pelos olhos que os viram
Sobretudo, muitos pensamentos barbitúricos,
Países que importa não deixar adivinhar
Debaixo de janelas que, para todos os efeitos,
Esgotaram todos os dias e noites.
É evidente, decretar que a abundância da terra
Se reduza a cinzas contritas,
Ouvir-te dizer que não queres, não podes
Saber mais nada de mim
E, depois, essa calmaria sem tempestade,
A calmaria sem ser por nada,
Um restolhar de putrescência
Lá onde não resta alma alguma
Ou, então, o secreto relevo do choro,
A sua orografia na respiração,
O seu súbito rapto por falta de ar.
Tudo muito bonito, até esta tristeza jogral,
Vagamente absurda e que dizes sem objecto.
Veremos, veremos se resulta,
Veremos se alguém escapa
Ao cerco de quanto cala
Ou se alguma traição guiará
Palavras incendiárias por uma poterna do coração.

C'est évident, il est des choses qui ne peuvent se dire
Sans être l'occasion de désagréments,
Des villes où il vaut mieux ne pas tomber,
Des images à cacher aux formes interdites
Non pour ce qu'elles montrent mais pour ce que les yeux voient
Et surtout, beaucoup de pensées barbituriques,
Des pays qu'il importe de ne pas laisser deviner
Sous nos fenêtres qui, en tout état de cause,
Ont épuisé tous les jours et les nuits.
C'est évident, décréter que l'abondance de la terre
Se réduit à des cendres contrites,
Laisse entendre que tu ne veux, que tu ne peux plus
Rien savoir de moi
Et puis cette accalmie sans tempête,
Ce calme sans plus de raison,
Le bruissement de la putrescence
Là où il ne reste plus aucune âme
Ou le relief secret des pleurs aussi bien,
Leur orographie dans la respiration,
Leur soudain enlèvement par manque d'air.
Tout cela est très beau, jusqu'à cette tristesse bouffonne,
Vaguement absurde et que l'on dit sans objet.
Nous verrons, nous verrons ce qu'il en résulte,
Nous verrons si quelqu'un va réchapper
Au siège d'un si grand silence
Ou si quelque trahison réussira à conduire
Des mots incendiaires jusqu'à la poterne du cœur.

________________

Karl Schmidt-Rottluff
La percée dans la digue (1910)
...

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire

Nuage des auteurs (et quelques oeuvres)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant'Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (38) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (106) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (43) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (40) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (39) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (435) Pássaro de vidro (52) Poemas Sociais (30) Poèmes inédits (252) Reinaldo Ferreira (22) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)