Tâmiris


Nom :
 
Recueil :
 
Autre traduction :
Antônio Cícero »»
 
A cidade e os livros (2002) »»
 
Italien »»
«« précédent / Sommaire / suivant »»
________________


Tâmiris
Thamyris


Jamais poeta algum houve mais alto
do que Tâmiris, o trácio, rival
de Orfeu, cujo canto é capaz de dar
saudade do que nunca nos foi dado
salvo reflexo em verso de cristal.
Se um mortal alcançasse ser feliz,
tal seria Tâmiris: quem o vir
deitado sobre a grama com o rapaz
(digno, pela beleza, de dormir
nos braços do próprio Apolo) que o ama
e cujos cabelos Zéfiro afaga
com dedos volúveis, há de convir
comigo em que é assim, a menos que haja
visto, no rio em que agora mergulham
ou na relva que ao sol dourada ondula
no antebraço do moço à beira d'água
ou na ode em que essa manhã fulgura
e foge para sempre, agora e aqui
refolharem-se o passado, o porvir,
o alhures: tantas trevas na medula
da luz. Já Tâmiris quer possuir
as Musas que o possuem. É seu fado
desafiá-las e perder: insensato,
esplêndido, cego, cheio de si.
Jamais poète ne fut plus sublime
que Thamyris, le Thrace, rival
d'Orphée, dont le chant est capable de donner
le regret de ce qui ne nous fut donné autrement
que dans le reflet de ces vers cristallin.
Si un mortel était parvenu à être heureux,
ce serait Thamyris : Celui qui le verra
allongé sur l'herbe avec ce garçon
(digne, pour la beauté, de dormir
dans les bras d'Apollon lui-même) qui l'aime
et dont Zéphyr caresse les cheveux
de ses doigts volages, conviendra
avec moi qu'il en est ainsi, à moins qu'il n'ait
vu, dans la rivière où ils plongent maintenant,
ou dans l'herbe qui, sous le soleil doré, ondule
sur l'avant-bras du jeune homme au bord de l'eau,
ou avec l'ode qui ce matin fulgure
et s'enfuit pour toujours, maintenant et ici
se renfeuillent le passé, le futur,
l'ailleurs : tant d'obscurité dans la moelle
de la lumière. Thamyris, lui, veut posséder
les Muses qui le possèdent. C'est son destin
de les défier et de perdre : insensé,
splendide, aveugle, imbu de lui-même.
________________

Giorgio de Chirico
Oreste et Pylade (1963)
...

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire

Nuage des auteurs (et quelques oeuvres)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant'Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (38) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (106) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (43) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (40) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (39) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (435) Pássaro de vidro (52) Poemas Sociais (30) Poèmes inédits (252) Reinaldo Ferreira (23) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)