Nênia


Nom :
 
Recueil :
 
Autre traduction :
Antônio Cícero »»
 
A cidade e os livros (2002) »»
 
Italien »»
«« précédent / Sommaire / suivant »»
________________


Nênia
Nénie


A morte nada foi para ele, pois enquanto vivia não
havia a morte e, agora que há, ele já não vive. Não
temer a morte tornava-lhe a vida mais leve e o
dispensava de desejar a imortalidade em vão. Sua vida
era infinita, não porque se estendesse indefinidamente
no tempo mas porque, como um campo visual, não
tinha limite. Tal qual outras coisas preciosas, ela não
se media pela extensão mas pela intensidade.
Louvemos e contemos no número dos felizes os que
bem empregaram o parco tempo que a sorte lhes
emprestou. Bom não é viver, mas viver bem. Ele viu a
luz do dia, teve amigos, amou e floresceu. Às vezes
anuviava-se o seu brilho. Às vezes era radiante. Quem
pergunta quanto tempo viveu?
Viveu e ilumina nossa memória.
La mort n'était rien pour lui, car tant qu'il vivait, il n'y avait
pas de mort, et dès lors qu'elle était là, il n'y était plus. Ne pas
craindre la mort rendait sa vie plus légère et le
dispensait de désirer en vain l'immortalité. Sa vie
était infinie, non parce qu'elle s'étendait indéfiniment
dans le temps mais comme un champ visuel, parce qu'elle n'
avait pas, de limite. Pareille aux autres choses précieuses, elle n'
a pas sa mesure dans l'extension mais dans l'intensité.
Louons et comptons au nombre des heureux ceux qui
ont bien employé la part de temps que la chance leur
a prêté. N'importe pas le bon vivre, mais le bien vivre. Il a vu la
lumière du jour, il a eu des amis, a aimé et s'est épanoui. Parfois,
son éclat s'ennuageait. Parfois, il irradiait. Qui
va demander combien de temps il a vécu ?
Il a vécu, illuminant notre mémoire.
________________

Félix Vallotton
La plage de sable blanc (1913)
...

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire

Nuage des auteurs (et quelques oeuvres)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant'Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (38) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (106) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (43) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (40) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (39) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (435) Pássaro de vidro (52) Poemas Sociais (30) Poèmes inédits (252) Reinaldo Ferreira (23) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)