Somos todos poetas


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Murilo Mendes »»
 
A poesia em pânico (1937) »»
 
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Somos todos poetas
Nous sommes tous des poètes


Assisto em mim a um desdobrar de planos.
As mãos vêem, os olhos ouvem, o cérebro se move,
A luz desce das origens através dos tempos
E caminha desde já
Na frente dos meus sucessores.
Companheiro,
Eu sou tu, sou membro do teu corpo e adubo da tua alma.
Sou todos e sou um,

 Sou responsável pela lepra do leproso e pela órbita vazia do cego,
Pelos gritos isolados que não entraram no coro.
Sou responsável pelas auroras que não se levantam
E pela angústia que cresce dia a dia.
J'assiste en moi à un dédoublement de plans.
Mes mains voient, mes yeux entendent, le cerveau se meut,
La lumière descend des origines traversant les siècles
Et chemine dès lors
Devant mes successeurs.
Compagnon.
Je suis toi, membre de ton corps et terreau de ton âme.
Je suis tout et je suis un,

 Responsable de la lèpre du lépreux et de l'orbite vide de l'aveugle,
Des cris isolés qui ne sont pas entrés dans le chœur.
Responsable des aurores qui ne se lèvent pas
Et de l'angoisse qui grandit de jour en jour.
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Jérôme Bosch
Triptyque du vagabond
La nef des fous
(1505-1510)

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