O Balouço


Nom :
 
Recueil :
 
Autre traduction :
Jorge de Sena »»
 
Metamorfoses (1963) »»
 
Italien »»
«« précédent /  Sommaire / suivant »»
________________


O Balouço
La balançoire


Como balouça pelos ares no espaço
entre arvoredo que tremula e saias
que lânguidas esvoaçam indiscretas!
Que pernas se entrevêem, e que mais
não vê o que indiscreto se reclina
no gozo de escondido se mostrar!
Que olhar e que sapato pelos ares,
na luz difusa como névoa ardente
do palpitar de entranhas na folhagem!
Como um jardim se emprenha de volúpia,
torcendo-se nos ramos e nos gestos,
nos dedos que se afilam, e nas sombras!
Que roupas se demoram e constrangem
o sexo e os seios que avolumam presos,
e adivinhados na malícia tensa!
Que estátuas e que muros se balouçam
nessa vertigem de que as cordas são
tão córnea a graça de um feliz marido!
Como balouça, como adeja, como
é galanteio o gesto com que, obsceno,
o amante se deleita olhando apenas!
Como ele a despe e como ela resiste
no olhar que pousa enviesado e arguto
sabendo quantas rendas a rasgar!
Como do mundo nada importa mais!

Comme elle se balance par les airs dans
l'espace entre des futaies qui tremblent
et des robes languides qui voltigent, indiscrètes !
Quelles jambes entrevues et qu'y a-t-il de plus
qu'il ne voit, l'indiscret s'il se penche, à ce jeu
de cache-cache qui se voile et se montre !
Quel regard et quel soulier par les airs,
dans l'or diffus comme une brume ardente
cette palpitation des cœurs sous le feuillage !
Comme un jardin s'imprégnant de voluptés,
dans les gestes qui fléchissent, et les branches,
et les doigts qui s’effilent, et les ombres !
Quels vêtements s'attardent et contraignent
le sexe et les seins pressés qui se gonflent,
pressentis sous la tension malicieuse !
Que de statues et que de murs se balancent
dans ce vertige dont les cordes sont
si tendues qu'elle plaisent à l'heureux mari !
Comme elle se balance et voltige, comme
il est galant le geste avec lequel, obscène,
l'amant se délecte en regardant à peine !
Comme elle se dévoile et comme elle résiste
au regard qui se pose rusé de biais sachant
combien de dentelles il devra déchirer !
Comme il n'a plus d'importance alors ce monde !

________________

Jean Honore Fragonard
La balançoire (1767-1768)
...

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire

Nuage des auteurs (et quelques oeuvres)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant'Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (38) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (43) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (40) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (39) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (432) Pássaro de vidro (52) Poemas Sociais (30) Poèmes inédits (250) Reinaldo Ferreira (10) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)