O sonho dos peixes


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O sonho dos peixes
Le rêve des poissons


Não posso admitir que os sonhos
sejam um privilégio das criaturas humanas.
Os peixes também sonham.
No lago pantanoso, entre miasmas
que aspiram à espessa dignidade da vida,
eles sonham com os olhos sempre abertos.

Os peixes sonham imóveis, na bem-aventurança
da água fétida. Não são como os homens, que se agitam
em seus leitos desastrados. Na verdade,
os peixes diferem de nós, que ainda não aprendemos
 a sonhar
e nos debatemos, como afogados, na água turva
entre imagens hediondas e espinhas de peixes mortos.

Junto ao lago que eu mandei cavar,
tornando verdade um incômodo sonho de infância,
interrogo a água escura. As tilapias se escondem
de meu suspeitoso olhar de proprietário
e se recusam a ensinar-me como devo sonhar.

Il n'est possible d'admettre que les rêves
soient le privilège des créatures humaines.
Les poissons rêvent aussi.
Dans le lac bourbeux, parmi les miasmes
qui aspirent à l'épaisse dignité de la vie
ils rêvent avec leurs yeux toujours grands ouverts.

Le poisson rêve immobile, dans la béatitude
de l'eau fétide. Ne sont pas comme les hommes, qui s'agitent
sur leurs lits désastreux. En vérité,
les poissons diffèrent de nous, qui n'avons pas encore
 appris à rêver.
et nous débattons, comme des noyés, dans l'eau trouble
entre des images hideuses et des arêtes de poissons morts.

Au bord du lac que j'ai fait creuser,
réalisant un rêve inconfortable d'enfance,
j'interroge l'obscurité de l'eau. Les tilapias se camouflent
loin de mon regard suspect de propriétaire
et se refusent à m'apprendre comment il faut rêver.

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Paul Klee
Magie des poissons (1925)
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