Diário


Nom :
 
Recueil :
Source :
 
Autre traduction :
Nuno Rocha Morais »»
 
Poèmes inédits »»
nunorochamorais.blogspot.com (janvier 2022) »»
 
Italien »»
«« précédent / Sommaire / suivant »»
________________


Diário
Journal


Continuamos à espera de ordens.
Do inimigo, nem sinal.
Não interessa quem ganhou, quem perdeu:
Se a guerra acabou, queremos saber,
Queremos voltar. Mas, para onde?
Já não recebemos cartas nem reforços,
Já não somos rendidos.
Será que nos esqueceram neste fim de mundo?
Ainda vivos, já somos soldados desconhecidos?
Estamos cansados desta rotina,
Destes uniformes, destas armas,
Estamos cansados uns dos outros.
Só homens, só cheiro de homens,
Nem sequer uma árvore para nos lembrar
A presença de uma mulher. Nada.
As nossas almas desertaram há muito.
Nenhum de nós regressará herói.
Não vimos nada, não fizemos nada,
Limitámo-nos a esperar, enterrados,
E, entretanto fomo-nos apagando, diluindo,
Até se esquecerem de nós.
Não vimos nada desta guerra,
Provavelmente acabou há muito,
Provavelmente nunca se travou,
Mas poderemos algum dia dizer
Que lhe sobrevivemos?

Nous continuons d'attendre les ordres.
De l'ennemi, nul signal
Peu importe qui a gagné, qui a perdu :
Si la guerre est terminée, nous voulons le savoir,
Nous voulons rentrer. Mais où ?
Nous ne recevons plus de lettres ni de renforts,
Nous ne nous sommes jamais rendus.
Avons-nous été oubliés dans ce bout du monde ?
Encore en vie, sommes-nous déjà des soldats inconnus ?
Nous sommes fatigués de cette routine,
De ces uniformes, de ces armes,
Nous sommes fatigués les uns des autres.
Rien que des hommes, l'odeur des hommes,
Pas même un arbre pour nous rappeler
La présence d'une femme. Rien.
Nos âmes ont déserté depuis longtemps.
Aucun d'entre nous ne reviendra en héros.
Nous n'avons rien vu, nous n'avons rien fait,
Nous avons juste attendu, enterrés,
Et entre-temps, nous nous sommes effacés, dilués,
Jusqu'à ce qu'ils nous oublient.
Nous n'avons rien vu de cette guerre,
Probablement terminé depuis longtemps,
Probablement n'a-t-elle jamais eu lieu,
Mais pourrons-nous jamais dire un jour
Que nous lui avons survécu ?

________________

Dino Buzzati
Le désert des Tartares (1965)
...

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire

Nuage des auteurs (et quelques oeuvres)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant'Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (38) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (43) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (40) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (39) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (434) Pássaro de vidro (52) Poemas Sociais (30) Poèmes inédits (251) Reinaldo Ferreira (13) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)