Considero à vista o poema...


Nom :
 
Recueil :
 
Autre traduction :
Fiama Hasse Pais Brandão »»
 
Área Branca (1978) »»
 
Italien »»
«« précédent /  Sommaire / suivant »»
________________


Considero à vista o poema...
Je considère en vue le poème...


Considero à vista o poema
uma gota de lodo, pois é possível
pintá-lo com o bico superior alto
e o bojo rotundo cheio
de esquírolas e de depósitos.
Escuro e medonho foi como
os renascentes me indicaram
o abismo do mar. Os hipostáticos,
os frenéticos românticos
ao sentir brotar o terror existencial,
viram que o elemento água
ensopava a alma e os olhos
sem diferença, e que o estrépito
das situações extremas no mar
traduzia o pânico de morrer.

Considero o poema o mar,
com uma pasta arroxeada
no lugar mais adequado à água.
Também tem um fundo
de desperdícios, uma dimensão
espaçosa cheio de cavername
solto, que me obriga
a ranger como uma arte
os meus ossos de poeta,
sem nenhuma crença herética,
senão a de que a morte teve noções
diversas e que a noção mais cruel
foi a que a assemelhou tanto
à vida, que os meus contemporâneos
a sentem como a ser assistida
imediatamente pela sua consciência.

Para quem como eu viu
o próprio corpo do poema
tomar uma configuração mole,
semelhante a um licor
em gotículas ou à de coágulos,
estando longe de mim neste caso
uma associação de ideias
com a morte ou a agonia,
esta hora é já
a imagem de púrpura
de um ocaso impessoal.
Olhado como uma abóbada
de pele plástica estendida
e repuxada pelos querubins,
que não quero esquecer
como anjos necessários,
que os bizantinos confundiram
em demasiados pormenores
com aves nítidas, tantas vezes
azuis enquanto o céu se dourava.

Je considère en vue le poème
une goutte de boue, car il est possible
de le peindre avec un haut bec supérieur
et un ventre rond plein
d'esquilles et de dépôts.
Obscur, épouvantable fut comme
les Renaissants me l'ont indiqué
l'abîme de la mer. Les hypostatiques,
les romantiques frénétiques
ont senti germer la terreur existentielle,
ils ont vu que l'élément aqueux
imbibait l'âme et les yeux
indifféremment, et qu'en mer,
les clabauderies des situations extrêmes
traduisait la panique devant la mort.

Je considère le poème : la mer,
avec une pâte violacée
à l'endroit le plus approprié pour l'eau.
Il possède aussi un fond
de déperditions, une dimension
spacieuse emplie de carcasses
disloquées, qui m'oblige
à faire grincer mes os
de poète avec art,
sans aucune croyance hérétique,
si ce n'est que la mort avait diverses notions
et que la plus cruelle de ces notions
était celle qui l'assimilait tellement
à la vie, que mes contemporains
ont eu le sentiment d'être réglés
immédiatement par leur conscience.

Pour ceux, comme moi, qui ont vu
le corps propre du poème
prendre une configuration molle,
semblable à une liqueur en
forme de gouttelettes ou de caillots,
étant loin de moi dans ce cas
une association d'idées
vient avec la mort ou l'agonie,
cette heure est alors
l'image d'une violette
décadence impersonnelle.
Considéré comme une abondance
de peau plastique étendue
et tirée par les chérubins,
que je ne veux pas oublier
comme anges nécessaires,
les Byzantins ont confondus
beaucoup trop de détails
avec des oiseaux éclatants, si souvent
bleus alors que le ciel était doré.

________________

Galileo Chini
Du bateau pour Bangkok (1912)
...

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire

Nuage des auteurs (et quelques oeuvres)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant'Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (38) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (43) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (40) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (39) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (433) Pássaro de vidro (52) Poemas Sociais (30) Poèmes inédits (250) Reinaldo Ferreira (11) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)