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Recueil : Autre traduction : |
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Homenagem à literatura
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Hommage à la littérature
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O rectângulo da ravina está sobre o teu corpo,
há uma luz sem recantos, a razão duvida
de que os símbolos não sejam sempre as razões
verosímeis dos movimentos da voz, do ouvido comovidos
pela presença da imaginação em todas as obras.
Basta o vapor
que desliza sobre as bordos da ravina sem jamais enevoar
o teu corpo que tem outra espessura e o latejar solitário
do animal que não foi ainda transcrito para a gravura.
Basta a areia ocre ter sido destruída pelo ácido mate
e nada ter corroído o teu corpo que pulsa ou que adormece
para eu dizer que tudo é dispar, que aprender
a transformar
as formas entre si é tornar inteligente a linguagem
para a História,
tornar histórico todo o corpo a quem a carência faz amar
substâncias pobres e faustosas, a quem o delírio mostra
a forma tosca ou difícil dos objectos, que estão
sobre o teu corpo sem que cirros de nuvens o arrefeçam
porque a fatal imaginação te distingue a meus olhos
da cor térrea com que a ravina pertence ao
pensamento da História.
Voltado sobre o flanco tu próprio ainda ignoras
que já houve a ameaça da queda do teu corpo
sobre ondas de rochas, pedras cáusticas, um tronco
áspero obliquo,
um corte no terreno que revela o sulco a percorrer
até à cordilheira
que eu te disse ter sido um dia um espelho sombrio
da tua voz.
O rectângulo da ravina que está sobre o teu corpo
tem como a vida certos dias a cor espessa cinzenta
por sinestesia, que dilui a cor da água corrente
que deveria nascer entre as fissuras. Estas avencas
hão-de desenhar nódoas nos traços distintos da tua pele
ou mesmo esconder a silhueta que ao longo do monólogo
ou se esvai ou regressa. Perguntarei se partilha
a vida das figuras ou se figura a vida
de que participo como outro espelho, imagem filosófica.
Estou a sentir que qualquer descrição acrescenta
o tempo de que disponho para viver e ao qual
a consciência me concede um prazo divino
para pensar. A litografia que na parede me é dada
pelo autor como outro ser, o meu próximo,
para que eu o possa expandir até ao limite,
conceito de divino.
Mas eu sei que foi o teu corpo que a transformou
em termo de comparação, porque ela só, nos tons baços,
não estava destinada a exprimir-te. Sobretudo
depois do abandono
a que vos votei pensando apenas na duração da vida,
na brevidade da imagem vil do ocaso humano,
já há muito associado ao do astro, tão pungente
como ele porque duvido da verdade de ambos. Somente
me faltava duvidar da presença descrita do teu corpo
com as sombras da meditação sobre a verdade.
Assim o silêncio, reposteiro da noite inédito
até à ode à noite reafirma toda a distância entre pensar
e estar. Posso dizer que o poeta imorredouro
é o que introduz na lingua a metáfora mais densa.
Olhara o rectângulo da ravina que está sobre teu corpo
para dizer que é a metáfora que constitui a lingua pátria
e que cada metáfora é na sua íntegra incomprensível,
o que a torna o fundamento de toda a diferença.
Que à medida que os anos e os vocábulos se acumulam
mais incompreensível me torno para os detentores
de outras técnicas
e que só deve ler-me quem não tema reconhecer-se
como leitor único.
há uma luz sem recantos, a razão duvida
de que os símbolos não sejam sempre as razões
verosímeis dos movimentos da voz, do ouvido comovidos
pela presença da imaginação em todas as obras.
Basta o vapor
que desliza sobre as bordos da ravina sem jamais enevoar
o teu corpo que tem outra espessura e o latejar solitário
do animal que não foi ainda transcrito para a gravura.
Basta a areia ocre ter sido destruída pelo ácido mate
e nada ter corroído o teu corpo que pulsa ou que adormece
para eu dizer que tudo é dispar, que aprender
a transformar
as formas entre si é tornar inteligente a linguagem
para a História,
tornar histórico todo o corpo a quem a carência faz amar
substâncias pobres e faustosas, a quem o delírio mostra
a forma tosca ou difícil dos objectos, que estão
sobre o teu corpo sem que cirros de nuvens o arrefeçam
porque a fatal imaginação te distingue a meus olhos
da cor térrea com que a ravina pertence ao
pensamento da História.
Voltado sobre o flanco tu próprio ainda ignoras
que já houve a ameaça da queda do teu corpo
sobre ondas de rochas, pedras cáusticas, um tronco
áspero obliquo,
um corte no terreno que revela o sulco a percorrer
até à cordilheira
que eu te disse ter sido um dia um espelho sombrio
da tua voz.
O rectângulo da ravina que está sobre o teu corpo
tem como a vida certos dias a cor espessa cinzenta
por sinestesia, que dilui a cor da água corrente
que deveria nascer entre as fissuras. Estas avencas
hão-de desenhar nódoas nos traços distintos da tua pele
ou mesmo esconder a silhueta que ao longo do monólogo
ou se esvai ou regressa. Perguntarei se partilha
a vida das figuras ou se figura a vida
de que participo como outro espelho, imagem filosófica.
Estou a sentir que qualquer descrição acrescenta
o tempo de que disponho para viver e ao qual
a consciência me concede um prazo divino
para pensar. A litografia que na parede me é dada
pelo autor como outro ser, o meu próximo,
para que eu o possa expandir até ao limite,
conceito de divino.
Mas eu sei que foi o teu corpo que a transformou
em termo de comparação, porque ela só, nos tons baços,
não estava destinada a exprimir-te. Sobretudo
depois do abandono
a que vos votei pensando apenas na duração da vida,
na brevidade da imagem vil do ocaso humano,
já há muito associado ao do astro, tão pungente
como ele porque duvido da verdade de ambos. Somente
me faltava duvidar da presença descrita do teu corpo
com as sombras da meditação sobre a verdade.
Assim o silêncio, reposteiro da noite inédito
até à ode à noite reafirma toda a distância entre pensar
e estar. Posso dizer que o poeta imorredouro
é o que introduz na lingua a metáfora mais densa.
Olhara o rectângulo da ravina que está sobre teu corpo
para dizer que é a metáfora que constitui a lingua pátria
e que cada metáfora é na sua íntegra incomprensível,
o que a torna o fundamento de toda a diferença.
Que à medida que os anos e os vocábulos se acumulam
mais incompreensível me torno para os detentores
de outras técnicas
e que só deve ler-me quem não tema reconhecer-se
como leitor único.
Le rectangle de la ravine est sur ton corps,
il y a une lumière sans tain, la raison doute
de ce que les symboles ne soient pas toujours les raisons
vraisemblables des mouvements de la voix, de l'oreille émue
par la présence, en toute œuvre, de l'imagination.
Suffisent la vapeur
qui glisse sur les bords de la ravine sans jamais embuer
ton corps, qui a une autre épaisseur, et la pulsation solitaire
de l'animal qui n'a pas encore été retranscrite sur la gravure.
Il suffit que le sable ocre ait été détruit par l'acide mat
et que rien n'ait corrodé ton corps qui pulse ou qui s'endort
pour que je dise que tout est disparate, qu'apprendre à
transformer
les formes entre elles, c'est rendre intelligible le langage
de l'Histoire,
rendre historique tout le corps à qui le manque fait aimer
des substances pauvres et fastueuses, à qui le délire montre
la forme brute ou difficile des objets, qui sont
sur ton corps sans que les cirrus des nuages ne le refroidissent
car la fatale imagination te distingue à mes yeux
de la couleur terreuse avec laquelle la ravine appartient
à la pensée de l'Histoire.
Tourné sur le flanc, toi-même tu ignores encore
si déjà il y a eu la menace de la chute de ton corps
sur des vagues de roches, pierres caustiques, tronc
âpre, oblique,
coupe dans le sol qui révèle le sillon à parcourir
jusqu'à la cordillère
que je t'ai dit avoir été un jour, sombre miroir
de ta voix.
Le rectangle de la ravine qui est sur ton corps a,
comme la vie, certains jours, la couleur grise épaisse
due à la synesthésie, qui dilue la couleur de l'eau courante
qui devrait naître parmi les fissures. Ces capillaires
devraient masquer de taches les traits distinctifs de ta peau
ou même cacher la silhouette qui, au long du monologue,
ou s'estompe ou revient. Je demanderai si tu partages
la vie des figures ou si la vie / à laquelle je participe
comme un autre miroir, figure une image philosophique.
J'ai l'impression que chaque description accroit
le temps dont je dispose pour vivre et grâce auquel
la conscience m'octroie un délai divin
pour penser. La lithographie sur le mur m'est donnée
par l'auteur comme un être différent, proche de moi,
pour que je puisse l'étendre jusqu'à la limite,
divin concept.
Mais je sais que ce fut ton corps qui la transforma
en terme de comparaison, car elle seule, dans les tons fades,
n'était pas destinée à t'exprimer. Surtout après
l'abandon
auquel je vous ai voué, ne pensant qu'à la durée de la vie,
à la brièveté de l'image vile du crépuscule de l'homme,
longtemps associée à celle de l'étoile, aussi poignante
que lui, encore que je doute de la vérité des deux. Seulement
il me fallait douter de la présence de ton corps
décrite avec les ombres de la méditation sur la vérité.
Ainsi, le silence, linceul de la nuit inédite
jusqu'à l'ode à la nuit, réaffirme toute la distance entre penser
et être. Je peux dire que le poète impérissable
est celui qui introduit dans la langue la métaphore la plus dense.
J'ai regardé le rectangle de la ravine qui est sur ton corps pour
dire qu'elle est la métaphore qui constitue la langue maternelle
et que chaque métaphore est intégralement incompréhensible,
ce qui en fait le fondement de toute différence.
Qu'à mesure où les années et les vocables s'accumulent,
je deviens plus incompréhensible pour ceux qui ont
d'autres techniques
et que seul devrait me lire celui qui n'a pas peur de se
reconnaître comme lecteur unique.
il y a une lumière sans tain, la raison doute
de ce que les symboles ne soient pas toujours les raisons
vraisemblables des mouvements de la voix, de l'oreille émue
par la présence, en toute œuvre, de l'imagination.
Suffisent la vapeur
qui glisse sur les bords de la ravine sans jamais embuer
ton corps, qui a une autre épaisseur, et la pulsation solitaire
de l'animal qui n'a pas encore été retranscrite sur la gravure.
Il suffit que le sable ocre ait été détruit par l'acide mat
et que rien n'ait corrodé ton corps qui pulse ou qui s'endort
pour que je dise que tout est disparate, qu'apprendre à
transformer
les formes entre elles, c'est rendre intelligible le langage
de l'Histoire,
rendre historique tout le corps à qui le manque fait aimer
des substances pauvres et fastueuses, à qui le délire montre
la forme brute ou difficile des objets, qui sont
sur ton corps sans que les cirrus des nuages ne le refroidissent
car la fatale imagination te distingue à mes yeux
de la couleur terreuse avec laquelle la ravine appartient
à la pensée de l'Histoire.
Tourné sur le flanc, toi-même tu ignores encore
si déjà il y a eu la menace de la chute de ton corps
sur des vagues de roches, pierres caustiques, tronc
âpre, oblique,
coupe dans le sol qui révèle le sillon à parcourir
jusqu'à la cordillère
que je t'ai dit avoir été un jour, sombre miroir
de ta voix.
Le rectangle de la ravine qui est sur ton corps a,
comme la vie, certains jours, la couleur grise épaisse
due à la synesthésie, qui dilue la couleur de l'eau courante
qui devrait naître parmi les fissures. Ces capillaires
devraient masquer de taches les traits distinctifs de ta peau
ou même cacher la silhouette qui, au long du monologue,
ou s'estompe ou revient. Je demanderai si tu partages
la vie des figures ou si la vie / à laquelle je participe
comme un autre miroir, figure une image philosophique.
J'ai l'impression que chaque description accroit
le temps dont je dispose pour vivre et grâce auquel
la conscience m'octroie un délai divin
pour penser. La lithographie sur le mur m'est donnée
par l'auteur comme un être différent, proche de moi,
pour que je puisse l'étendre jusqu'à la limite,
divin concept.
Mais je sais que ce fut ton corps qui la transforma
en terme de comparaison, car elle seule, dans les tons fades,
n'était pas destinée à t'exprimer. Surtout après
l'abandon
auquel je vous ai voué, ne pensant qu'à la durée de la vie,
à la brièveté de l'image vile du crépuscule de l'homme,
longtemps associée à celle de l'étoile, aussi poignante
que lui, encore que je doute de la vérité des deux. Seulement
il me fallait douter de la présence de ton corps
décrite avec les ombres de la méditation sur la vérité.
Ainsi, le silence, linceul de la nuit inédite
jusqu'à l'ode à la nuit, réaffirme toute la distance entre penser
et être. Je peux dire que le poète impérissable
est celui qui introduit dans la langue la métaphore la plus dense.
J'ai regardé le rectangle de la ravine qui est sur ton corps pour
dire qu'elle est la métaphore qui constitue la langue maternelle
et que chaque métaphore est intégralement incompréhensible,
ce qui en fait le fondement de toute différence.
Qu'à mesure où les années et les vocables s'accumulent,
je deviens plus incompréhensible pour ceux qui ont
d'autres techniques
et que seul devrait me lire celui qui n'a pas peur de se
reconnaître comme lecteur unique.
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Nina Miller - Ravines (2020) |
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