Um nome na vidraça


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Mario Quintana »»
 
Baú de espantos (1986) »»
 
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Um nome na vidraça
Son nom sur la vitre


A guriazinha
desenha as letras do seu nome na vidraça
– encantadoramente mal feitas –
as letras escorrem...
Enquanto isto,
umas pessoas morrem,
outras nascem...
Entre umas e outras,
viro mais uma página
desta novela policial.
E exatamente à página 293, verifico,
quando o herói vai torcendo cautelosamente o trinco
 da porta,
interrompo
a leitura
e ele e todos os outros personagens ficam parados.
Eu sou o Deus catastrófico: não ligo,
olho agora a litografia da parede
– um trigal muito louro e acima dele apenas uma asa
contra o céu azul.
É como se eu abrisse uma janela na frustração
 da chuva!
Bem, neste momento as pessoas já devem ter morrido
 ou nascido
A verdade, minha filha,
é que eu não sei como parar este poema:
nos dias de chuva sobem do fundo do mar os navios
 fantasmas
sobem ruas, casas, cidades inteiras,
e procissões, manifestações, os primeiros
e os últimos encontros, o padre-cura e o boticário
discutindo política na esquina...
(A guriazinha
apaga as letras lacrimejantes da vidraça.
E recomeça...)

La fillette
dessine les lettres de son nom sur la vitre
– adorablement maladroites –
les lettres s'écoulent...
Pendant ce temps,
certaines personnes meurent,
d'autres naissent ...
Entre les unes et les autres,
Je tourne encore une page
de ce roman policier.
Et à la page 293 exactement, je m'aperçois,
que le héros tourne précautionneusement le loquet de
la porte,
J'interromps
ma lecture
et lui et tous les autres personnages s'immobilisent.
Je suis le Dieu catastrophique : peu importe.
Je regarde maintenant la lithographie du mur
– un champ de blé très blond et au-dessus rien qu'une aile
à contre-jour du ciel bleu.
C'est comme si j'ouvrais une fenêtre dans la frustration de
la pluie !
Bien, à ce moment les personnes doivent être nées ou
être mortes
En vérité, ma fille,
je ne sais pas comment terminer ce poème :
les jours de pluie, du fond de la mer remontent les vaisseaux
fantômes
des rues, des maisons, des villes entières surgissent,
processions, manifestations, les premiers et les derniers
rassemblements, le prêtre-guérisseur et l'apothicaire
discutant politique au coin de la rue...
(La fillette
efface les lettres larmoyantes sur la vitre.
Et recommence...)

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Vincent van Gogh
PLuie (1889)
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