Anjo que eu assassino


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Fiama Hasse Pais Brandão »»
 
14 Polissílabos sobre anjos (1978-1980) »»
 
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Anjo que eu assassino
L’ange que j'assassine


Só agora experimento espelhar a angústia
numa superfície que reflecte. Não pen-
sei nunca que o Poema fosse permeável.
E só agora me pesa este objecto cor
de pálpebra que me oculta visualmente.
Decifrem-me. Tenho na verdade o corpo dócil.
O verdadeiro equilíbrio do meu corpo prende-se
a fios ténues. Daqui até às hipóteses.
O esquecimento aproxima-se. São os poemas
que me tapam a visão. Com esta espessura
diante de mim eu já não Te vejo. Afasta es-
tas imagens usuais que foram postas
nos meus ombros. A minha liberdade depende
de um acto mágico. Terás de dissolver
este papel. Chamar limpidamente como eu
já ouvi chamares-me. O poema encobre-
-Te. Escrever assim é trespassar-me
até à minha alma dupla no Poema.

Alors seulement j'essaie de refléter l'angoisse
sur une surface réfléchissante. Je n'ai jamais pen-
sé que le Poème puisse être perméable.
Et ce n'est que maintenant que me pèse cet
objet couleur de paupière qui occulte ma vision.
Déchiffrez-moi. J'ai à vrai dire un corps docile.
Le véritable équilibre de mon corps se prend
à des fils ténus. D'ici jusqu'aux hypothèses.
L'oubli se rapproche. Ce sont les poèmes
qui me bouchent la vue. Avec cette épaisseur
devant moi je ne Te vois plus. Écarte ces im-
ages habituelles qui ont été placées
sur mes épaules. Ma liberté dépend
d'un acte magique. Tu devrais dissoudre
ce papier. Appeler clairement, comme moi
je t'ai entendu m'appeler. Le poème Te
recouvre. Écrire de cette manière c'est me trépasser
jusqu'à mon âme duplice dans le Poème.

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Odd Nerdrum
Autoportrait aux yeux fermés (1991)
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