Centro Comercial I


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Manuel de Freitas »»
 
Todos contentes e eu também (2000) »»
 
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Centro Comercial I
Centre commercial I


Agora a morte é diferente,1
facilitaram-nos o desespero, a angústia
tem já ar condicionado. Em vez
dos bancos de jardim, por certo demasiado
rudes, temos enfim lugares amplos
onde apodrecer a miséria simples do corpo.

Que incalculável felicidade a de percorrer
galerias de nada tresandando a limpeza
e segurança. Aí se abandonam jovens
rebanhos sentados sorrindo ao
vazio palpável, ou ferozmente no meio
dele. Revezam-se – mas quase diríamos
que são os mesmos ainda, exaustos
de contentamento. Dêmos pois as boas-vindas a esses
heróis do betão consagrado. Só eles nos fazem
acreditar no advento do romantismo cibernético.

É doce a merda que nos sepulta
e o cancro que um dia destes nos matará
há-de ser muito limpo, quase ecológico.
Maintenant, la mort est différente,
on a rendu le désespoir plus facile, l'angoisse
a désormais l'air conditionné. Au lieu
des bancs du parc, sans doute trop rudes,
nous avons enfin des lieux spacieux
où peut pourrir la misère simple du corps.

Quel bonheur incalculable, parcourir
les galeries du néant empestant la propreté
et la sécurité. On y abandonnent de jeunes
troupeaux assis en souriant devant
le vide palpable, ou férocement au milieu
de celui-ci. Ils s'y relaient - mais nous pourrions
presque dire qu'ils sont toujours les mêmes, épuisés
de contentement. Nous devons dès lors accueillir ces
héros du béton consacré. Eux seuls, nous font
croire à l'avènement du romantisme cybernétique.

La douceur est la merde qui nous enterre
et le cancer qui va nous tuer un de ces jours
sera très propre, presque écologique.
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Keith Haring
Pop Shop 2 (1986)
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