Estamos ambos condenados...


Nom :
 
Recueil :
Source :
Publication :
 
Autre traduction :
Nuno Rocha Morais »»
 
Poèmes inédits »»
nunorochamorais.blogspot.com (mars 2020) »»
Poemas dos dias (2022) »»
 
Italien »»
«« précédent / Sommaire / suivant »»
________________


Estamos ambos condenados...
Nous sommes tous les deux condamnés...


Estamos ambos condenados a observar
E a ser observados.
O nosso inferno são estas margens
Separadas por águas negras,
Caudalosas, torrenciais.
Caminhamos ao longo das margens,
Cada um na sua, fitamo-nos
Como inimigos que não sabemos se somos,
Cientes de que nunca chegaremos
A lado algum, a palavra alguma.
De vez em quando, ao crepúsculo, a figura do outro lado
Lança-se às águas e logo desaparece,
E apodera-se de mim um terror.
Corro pela margem, esperando ardentemente
Ver o seu corpo afogado.
De manhã, vejo-o de novo diante de mim,
Na sua margem; repelido pelas águas,
E, de cada vez, parece odiar-me.
Nunca me lanço às águas,
Mas a verdade é que, de manhã,
Acordo sempre encharcado.
Lançar-me às águas para quê?
Não quero trocar de margem.
A figura do outro lado
Parece-me a mais perfeita indiferença.
Só temo que esse vulto
Alcance a minha margem
E se apodere de mim, dos meus olhos,
Que continuarão a ver
Uma figura na outra margem.
Não quero trocar de margem.

Nous sommes tous les deux condamnés à observer
Et à être observés.
Notre enfer ce sont ces berges
Séparées par des eaux noires,
Écrasantes, torrentielles.
Nous marchons le long des rives,
Chacun en son for, en train d'observer
L'autre. Ne sachant pas vraiment si nous sommes ennemis,
Conscients que jamais rien n'aboutira,
d'aucuns, aucune parole.
De temps en temps, au crépuscule, la figure de l'autre côté
Se jette dans les eaux et vite disparaît,
Alors s'empare de moi une terreur.
Je cours avec ardeur le long de la rive, craignant
De voir son corps noyé.
Le matin, je le revois devant moi,
Sur sa rive; repoussé par les eaux,
Et à chaque fois, il semble que tu me détestes.
Je ne me jette jamais dans les eaux,
Mais la vérité est que, chaque matin,
Je me réveille trempé.
Me jeter à l'eau mais pourquoi ?
Je ne veux pas changer de rive.
La figure de l'autre côté
m'apparait dans la plus parfaite indifférence.
J'ai seulement peur que cette ombre
N'atteigne ma rive
Et se saisisse de moi, de mes yeux,
qui continue de voir
Une figure sur l'autre rive.
Je ne veux pas changer de bord.

________________

Tombe du Plongeur
Paestum (470-480 av J.C.)
...

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire

Nuage des auteurs (et quelques oeuvres)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant'Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (38) Ana Elisa Ribeiro (40) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (43) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (40) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (39) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (433) Pássaro de vidro (52) Poemas Sociais (30) Poèmes inédits (250) Reinaldo Ferreira (12) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)