Um dia, vou-me sentar em Veneza...


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Um dia, vou-me sentar em Veneza...
Un jour, j'irai m'asseoir à Venise...


Um dia, vou-me sentar em Veneza,
Observar os pombos, beber uma cerveja
Enquanto espero pelo Ruy Belo,
Morto em 1978,
Ano em que a sua vida deixou de ser dupla,
Espero pelo Ruy Belo,
Só ele poderá entender
Esta estranha alegria que me envolve
Quando penso que vamos morrer,
Que somos efémeros e não eternos,
Como às vezes a dor parece dizer.
O Ruy Belo há-de vir, conversaremos
E não estaremos mortos nem vivos,
Vou mostrar-lhe um verso de amor
E ele perceberá o que digo
Porque ele sabe que a presença da amada
Nos transforma: de súbito,
Somos belos e todos nos vêem
E todos nos amam.
Tudo isto o Ruy Belo há-de perceber.
Os seus passos não vão afugentar os pombos.

Un jour, j'irai m'asseoir à Venise,
Regarder les pigeons, boire une bière
En attendant Ruy Belo,
Décédé en 1978,
L'année où sa vie a cessé d'être double.
J'attends Ruy Belo,
Lui seul peut comprendre
Cette étrange joie qui m'enveloppe
Quand je pense que nous allons mourir,
Que nous sommes éphémères et non, éternels
Comme semble parfois le dire la douleur.
Ruy Belo va venir, nous allons parler.
Et nous ne serons ni morts ni vivants,
Je lui montrerai quelque vers d'amour
Et il comprendra ce que je dis
Car il saura que la présence de qui l'on aime
nous transforme : alors soudain,
Nous sommes beaux et tous nous voient
Et tout le monde nous aime.
Tout cela, Ruy Belo le comprendra.
Ses pas ne feront pas fuir les pigeons.

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John Singer Sargent
Cafè sur la Rive des Esclavons (1880)
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