A alma é inconveniente...


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A alma é inconveniente...
Avoir une âme est un inconvénient...


A alma é inconveniente,
Põe os pés onde não deve,
Diz o que não pode,
O resultado és tu, multiplicado,
Dividido, despedaçado, exponenciado
Em traições que cometes
Sem muito bem as explicares,
Mas és tu. Cabe-te encontrar
Sempre novas coisas a perder,
É assim que vives para não ficares
Completamente vazio.
Hoje, quem morre na autobiografia
Já não és tu, conseguiste ainda escapar,
Mas só ainda. Aproveita.
Depois uma fruteira, uma mesa de vidro
Baça de tantos riscos
E o teu rosto. Quem pensas que és
Para julgares que Deus te ignora?
A náusea, a náusea, como é moderna,
Como chega já a ser filosofia,
A enviscar a carne, os dias,
Que privilégio, a náusea.

Avoir une âme est un inconvénient,
Elle met les pieds où elle ne devrait pas,
Elle demande l'impossible
Le résultat, c’est toi, démultiplié,
Divisé, mis en pièces, ayant rendu exponentiel
Les trahisons que tu as commises
Sans trop bien les expliquer,
Mais c’est toi. Donc, à toi de trouver
Toujours de nouvelles choses à perdre,
C’est ainsi que tu vis pour ne pas rester
Complètement vide.
Aujourd’hui, celui qui meurt par autobiographie
Ce n’est pas toi, tu es parvenu à y échapper,
Mais seulement cette fois-ci. Profites-en.
Ensuite une corbeille de fruits, une table en verre
Opacifiée de tant de rayures
Et ton visage. Qui penses-tu être
Pour t'imaginer que Dieu t’ignore ?
La nausée, la nausée, qu'elle est moderne,
Et comme il arrive que je sois philosophe,
Engluant ainsi les chairs, les jours,
Quel privilège, la nausée.

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Romualdas Pranulis
La nausée (2021)
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