Como um touro, a música investe...


Nom :
 
Recueil :
Source :
 
Autre traduction :
Nuno Rocha Morais »»
 
Poèmes inédits »»
nunorochamorais.blogspot.com (avril 2020) »»
 
Italien »»
«« précédent / Sommaire / suivant »»
________________


Como um touro, a música investe...
Comme un taureau, la musique investit...


Como um touro, a música investe
Contra os corpos e arrebata-os.
Sobre o palco, espirais brancas
Transmutam em gesto a música.
E nos nossos sentidos tensos, envoltos
Na penumbra que nem respira,
Comovida, temendo quebrar
O encanto da música que a cerca
E a aprofunda;
Em nós, nos sentidos tensos,
Também tornados palco,
Vemos a música dançando,
A própria música, felina,
A música que é febre sobre a memória,
A memória esse cristalizado
Movimento perpétuo,
Encontra a música inefável
Que agora habita a matéria.
Assim entra a música em nós,
Só aí pode emudecer
E nunca na crepuscular exaustão do som.
A música canta em nós,
Ainda que muda, domando, alcandorada,
Os ritmos do silêncio,
Vive, muda,
Encontra o cisne que canta para morrer,
Para que nada da ave,
Da música da ave
Fique prisioneira do corpo,
E a outros se conceda.

Comme un taureau, la musique investit
Les corps et les emporte.
Sur la scène, des spirales blanches
Transforme en geste la musique.
Et dans nos sens exacerbés, enveloppés
Par une pénombre à la respiration ténue,
Remué, ayant peur de briser
Le charme de la musique qui l'entoure
Et l'approfondit;
En nous, les sens exacerbés,
Également tournés vers la scène,
Nous voyons la musique danser,
La musique elle-même, féline,
La musique qui est fièvre sur la mémoire,
La mémoire cette cristallisation
Du mouvement perpétuel,
À la recherche de la musique ineffable
Qui maintenant habite la matière.
La musique entre ainsi en nous,
Alors seulement elle peut être arrêtée
Et jamais par l'épuisement crépusculaire du son.
La musique chante en nous,
Même si elle change, dompte, élève
Les rythmes du silence,
Vit, change,
Trouve le cygne qui chante pour mourir,
De sorte que rien de l'oiseau,
De la musique de l'oiseau
N'est emprisonné dans le corps,
Ni à d'autres concédés.

________________

Nicolas de Staël
L'orchestre (1953)
...

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire

Nuage des auteurs (et quelques oeuvres)

A. M. Pires Cabral (44) Adélia Prado (40) Adolfo Casais Monteiro (36) Adriane Garcia (40) Affonso Romano de Sant'Anna (41) Al Berto (38) Albano Martins (41) Alexandre O'Neill (29) Ana Cristina Cesar (38) Ana Elisa Ribeiro (19) Ana Hatherly (43) Ana Luísa Amaral (40) Ana Martins Marques (48) Antônio Cícero (40) António Gedeão (37) António Ramos Rosa (39) Augusto dos Anjos (50) Caio Fernando Abreu (40) Carlos Drummond de Andrade (43) Carlos Machado (104) Casimiro de Brito (40) Cecília Meireles (37) Conceição Evaristo (33) Daniel Faria (40) Dante Milano (33) David Mourão-Ferreira (40) Donizete Galvão (41) Eugénio de Andrade (34) Ferreira Gullar (39) Fiama Hasse Pais Brandão (38) Francisco Carvalho (40) Galeria (27) Gastão Cruz (40) Gilberto Nable (46) Hilda Hilst (41) Inês Lourenço (40) João Cabral de Melo Neto (43) João Guimarães Rosa (33) João Luís Barreto Guimarães (40) Jorge de Sena (40) Jorge Sousa Braga (40) José Eduardo Degrazia (40) José Gomes Ferreira (40) José Saramago (40) Lêdo Ivo (33) Luis Filipe Castro Mendes (40) Manoel de Barros (36) Manuel Alegre (41) Manuel António Pina (32) Manuel Bandeira (39) Manuel de Freitas (41) Marina Colasanti (38) Mário Cesariny (34) Mario Quintana (38) Miguel Torga (31) Murilo Mendes (32) Narlan Matos (85) Nuno Júdice (32) Nuno Rocha Morais (429) Pássaro de vidro (52) Poemas Sociais (30) Poèmes inédits (248) Ronaldo Costa Fernandes (42) Rui Pires Cabral (44) Ruy Belo (28) Ruy Espinheira Filho (43) Ruy Proença (41) Sophia de Mello Breyner Andresen (32) Tesoura cega (35) Thiago de Mello (38) Ultimos Poemas (103) Vasco Graça Moura (40) Vinícius de Moraes (34)