Os domingos de Lisboa


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Alexandre O'Neill »»
 
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Os domingos de Lisboa
Les dimanches de Lisbonne


Os domingos de Lisboa são domingos
Terríveis de passar - e eu que o diga!
De manhã vais à missa a S. Domingos
E à tarde apanhamos alguns pingos
De chuva ou coçamos a barriga.

As palavras cruzadas, o cinema ou a apa,
E o dia fecha-se com um último arroto.
Mais uma hora ou duas e a noite está
Passada, e agarrada a mim como uma lapa,
Tu levas-me p'ra a cama, onde chego já morto.

E então começam as tuas exigências, as piores!
Quer's por força que eu siga os teus caprichos!
Que diabo! Nem de nós mesmos seremos já senhores?
Estaremos como o ouro nas casas de penhores
Ou no Jardim Zoológico, irracionais, os bichos?

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Mas serás tu a minha «querida esposa»,
Aquela que se me ofereceu menina?
Oh! Guarda os teus beijos de aranha venenosa!
Fecha-me esse olho branco que me goza
E deixa-me sonhar como um prédio em ruína!...

Les dimanches de Lisbonne sont des dimanches
Terribles à supporter – je vous le dis !
Le matin, on va à la messe de S. Domingos
Et le soir, on reçoit quelques gouttes
de pluie ou on se gratte le ventre.

Les mots croisés, le cinéma ou les chips
Et la journée se termine avec un dernier rot.
Encore une heure ou deux et la nuit est passée
Et s'accroche à moi comme une bernicle,
Tu me traines au lit où j'arrive déjà mort.

Et puis viennent tes exigences, les pires !
Tu veux à tout prix que je suive tes caprices !
Et diable ! Ne serions-nous plus maîtres de nous-mêmes ?
Serions-nous comme l'or des prêteurs sur gages
Ou, irrationnels, les insectes du Jardin Zoologique ?

... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Mais, ne seras-tu pas ma « chère épouse »,
Celle qui s'offrit à moi jeune fille ?
Alors, garde tes baisers d'araignée vénéneuse !
Ferme cet œil blanc qui me dévore
Et laisse-moi rêver comme un immeuble en ruine ! ...

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Edward Hopper
Chambre à New York (1932)

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